Valdiocir Bolzan

Missa do Galo interrompida
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Nos tempos idos a missa do galo era esperada com ansiedade pela população da Vila. Uma vez, a velha Matriz ficou superlotada de pessoas para assistirem a essa cerimônia religiosa.

O coro foi ocupado por diversos rapazes, entre os quais, alguns que não tiveram a necessária compostura naquele dia que deveria ser respeitado. Os paroquianos estavam completamente compenetrados em suas obrigações religiosas, ouvindo atentamente as palavras do Padre Mario Deluy que do alto do púlpito pregava, com voz meiga e carinhosa, o sermão referente ao Natal. Nessa hora reinava profundo silêncio na Igreja.

Subitamente se ouviu um ruído no coro e, pouco a pouco, foi aumentando. O vigário interrompeu o sermão e, sem dizer palavra fixou o olhar para o alto, de onde partiu o barulho inesperado como quem pedia silêncio, em gesto de súplica, como era o seu feitio.

De fato, houve silêncio, porém, por alguns minutos. Quando ele prosseguiu a prática, começou novamente o ruído com mais intensidade, chamando a atenção de todos os presentes. O bondoso Padre Mario Deluy, intimamente revoltado, como era natural, parou novamente de falar e disse referindo aos anarquistas, que, se não era para eles se portarem com dignidade na casa de Deus, saíssem o quanto antes dali.

Nesse momento o ruído tomou maiores proporções, ficando semelhante ao uma chuva de tempestade. É que os rapazes com desordem premeditada foram munidos de grande quantidade de pedrinhas e soltavam-nas pela escadaria abaixo, produzindo esse barulho ensurdecedor.

O Padre Mario Deluy, com lágrimas nos olhos, deu por terminada a missa. Essa falta de respeito, imprópria de um povo culto e, sobretudo de almas cristãs, levou a autoridade eclesiástica a abolir a “missa do galo” em nossa terra por três anos consecutivos.

Esse foi um Natal de tão triste memória nos tempos de outrora em São Sepé.

 

NOTA DO COLUNISTA:

O coro foi e é o local superior da Igreja, onde hoje para quem entra na Igreja tem uma escadaria que conduz à parte superior, onde antigamente cantavam ao vivo diversas pessoas, e também onde se tocava o sino.