Uma vida de imagens: a história de Valdomiro, um dos fotógrafos mais antigos de São Sepé

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Reportagem: Bruno Garcia e Leandro Ineu

Selfies, filtros, telas digitais e photoshop. Nada disso faz parte do mundo da fotografia dele. Figura conhecida em São Sepé e região, o senhor de atual expressão cabisbaixa e movimentos lentos precisou apenas de uma máquina, alguns rolos de filme e muita dedicação para fazer da fotografia o sustento nos seus bem vividos 83 anos de idade. Nesta semana, a reportagem do “Osepeense.com” revela a história de uma das personalidades lendárias de São Sepé: a fotógrafo Valdomiro Felix do Prado.


 

_MG_6370-2São seis filhos, cinco bisnetos e muita história para contar. Ao lado da esposa Geni Dias do Prado, Valdomiro perdeu a conta de quantas vezes atravessou a cidade de ponta a ponta para fotografar ou simplesmente para entregar o fruto do seu trabalho. E o gosto pela fotografia começou quando ele ainda morava em Formigueiro com a mãe. Jovem, lembra que visitava o município de Restinga Sêca com frequencia. Um dia enquanto caminhava pelas ruas da cidade parou em frente à uma loja. Na vitrine, observava atentamente diversas máquinas fotográficas. Alguns segundos depois foi surpreendido quando o vendedor do estabelecimento o convidou para entrar no local, perguntando se Valdomiro tinha se interessado por uma máquina. A mente mandava que Valdomiro dissesse sim embora o bolso alertasse que a resposta seria não. “Obviamente eu não tinha dinheiro para comprar nenhuma das máquinas. Disse então que juntaria um pouco para dar de entrada e voltaria em alguns dias. Não sei porque, mas o vendedor parece ter gostado de mim. Me mostrou o laboratório onde os filmes eram revelados e no final me vendeu a máquina sem que eu tivesse garantia de pagamento”, lembra.

Com negócio fechado, Valdomiro foi para casa com a máquina debaixo do braço e a esperança de construir sua história e sua vida através das lentes. Para aprender as funcionalidades e qual o melhor ângulo ou foco para fazer um “bom retrato”, Valdomiro fez um curso, também em Restinga Sêca. E não é que aprendeu?

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Com a vontade de progredir e adquirir um sustento, se mudou para São Sepé. A mãe dele vendera a chácara que tinha em Formigueiro em busca de uma vida melhor. Ele e o irmão, João Felix do Prado, já falecido, fundaram então a “Foto Dois Irmãos”. Foi Valdomiro quem ensinou o irmão a fotografar, mas tempos depois eles acabaram se separando, cada um com sua parte, e João foi morar em São Paulo. Alguns anos depois foi vítima de um acidente de motocicleta.

Quando morava na Rua Plácido Gonçalves, Valdomiro conheceu sua atual esposa, Geni, com quem vive há 54 anos. Valdomiro tinha 27 quando encontrou a mãe de seus filhos e fiel companheira de trabalho.

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Após o encerramento das atividades da Foto Dois Irmãos, Valdomiro fundou sozinho a “Foto Aurora”. Foram 23 anos de atividades em São Sepé. Neste meio tempo a esposa acabou assumindo diversas funções. Valdomiro tinha o trabalho de fotografar em diversas ocasiões e entregar o filme para Dona Geni. Por sua vez, ela selecionava as melhores fotos, revelava os filmes em Santa Maria e entregava na casa das pessoas, coisa que ela faz até hoje. Geni conta que conhece muita gente e sabe onde levar as fotos tiradas por Valdomiro nos lares ou no comércio de São Sepé. E por falar em fiel, há também no lar humilde do casal outra companheira fidedigna de Valdomiro: a máquina Praktica é usada por ele há mais de 40 anos. “É antiga, mas é duradoura e ainda me fornece fotos com definição”, comenta o fotógrafo com olhar orgulhoso para o objeto.

Valdomiro também recorda quando revelava os filmes em uma sala escura e ainda salienta que antigamente as câmeras fotográficas duravam mais. “Atualmente é difícil encontrar um filme para comprar. Minha esposa precisa ir até Santa Maria e guardar um estoque deles. Temos medo que um dia este tipo de foto vá acabar”, conta.

Na sua oitava década de vida Valdomiro não pensa em abandonar o que por muitos anos sustentou sua família e pôs o pão de cada dia no lar que já foi abrigo para seus filhos e hoje conforta apenas o casal. Embora com menor intensidade, ele não pensa em parar de fotografar e já garante a presença  no próximo evento da cidade: o Baile dos Bancários 2015 do Clube do Comércio.