Ivan Cezar Ineu Chaves

Sobre vaidades
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Na mitologia grega que sempre nos fornece magníficos ensinamentos através de seus personagens místicos e metafóricos, temos a figura de Narciso como o ícone da vaidade que usava a lâmina d’água do lago como espelho para contemplar, orgulhosamente, sua própria beleza. O personagem de tão forte, inspirou o vocábulo “narcisismo” como síntese de definição da vaidade e do orgulho exagerados.

Aqui entra um vocábulo que se afigura da mais extrema relevância, qual seja, o exagero. A vaidade deve ser compreendida dentro de fronteiras, de limites de razoabilidade, de modo que assim como assume um papel doentio quando levada para cima ao extremo, da mesma forma empurra para um quadro de grave patologia quando ausente ou demasiadamente mitigada, pois acaba por destruir a própria autoestima das pessoas.

Em síntese, concluímos – ou devemos concluir – que existe, sim, a boa vaidade. Aquela que leva a sentir orgulho, a atrair a admiração dos semelhantes e, enfim, a cultivar uma autoestima que é absolutamente essencial para que alguém possa se sair vencedor nas mais diversas facetas da vida.

Uma boa aparência, o cultivo de um bom caráter, bons princípios, competência laboral, envolvimentos afetivos sadios e tantas outras facetas do dia-a-dia ajudam a construir um contexto de vaidades úteis que reunidas dão cor e forma para a biografia de cada pessoa inserida no convívio comunitário.

Não é, portanto, um conceito simples e de fácil e imediata compreensão, pois a vaidade exagerada acaba causando sérios problemas e, de certa forma, tornando-se fator de exclusão no viés dos relacionamentos externos ou, por outro lado, transformando-se numa alavanca de negatividade para as opções pessoais e provocando autodestruição.

Uma das consequências da vaidade exagerada é, por exemplo, o consumo irresponsável de bens e serviços. Algumas pessoas chegam a carregar o terrível rótulo de “pródigas”, gastando tudo o que ganham – e muitas vezes até mais do que isso – para saciar a própria vaidade. Só para isso. É um problema. Grave!

A vaidade invade até outras esferas da vida. Na política, por exemplo, ela se presta para uma gama enorme de ilações. Algumas pessoas que possuem um currículo invejável na vida privada e profissional se lançam no universo político apenas para saciar uma vaidade – um orgulho – a vontade de inserir o nome na história.

Os dois últimos governadores do estado do Rio Grande do Sul são, para mim, exemplo clássico disso. Tarso Genro é um intelectual da mais alta envergadura e José Ivo Sartori é um empresário muito bem sucedido. Ambos deixaram em segundo plano atividades onde eram aclamados para virar vidraça e comandar uma estrutura enferrujada em situação de penúria financeira.

Na enorme maioria dos municípios brasileiros a situação é idêntica. Os prefeitos se elegem para transformarem suas vidas em verdadeiros tormentos. Alguns passam a contar os dias para terminar o mandato e, mesmo depois de concluído, muitos desses prefeitos ficam respondendo a processos e tem de vender bens para pagar apontamentos dos Tribunais de Contas.

Escolhi esse tema – a vaidade – para a crônica desta semana. Em suas múltiplas facetas ela é fator decisivo em nossas vidas. E não é de hoje, desde os míticos tempos de Narciso na Grécia milenar.