VOCÊ VAI MORRER – Francisco Melgareco

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Tempo de leitura: 4 minutos

 

 

Tenho certeza de que haverá tantas mensagens bonitas, de fé e esperança nesse fim de ano (e acho super válido e importante), mas resolvi trazer verdades dolorosas e necessárias. Resolvi ser o inconveniente fundamental, mexer onde dói. Acredite, tenho boas intenções.

E esse texto que não é sobre esperança, é principalmente para a turma do “segunda-feira eu começo”. Também para todos que sentem aquela necessidade excessiva de aprovação, de agradar a todos. Para todos aqueles congelados no tempo e espaço, na rotina e no anonimato, para aqueles que pensam que “não nasceram” para ser aquilo que tanto desejam. Por que não tentar?

Acredito que pode ajudar a se preocupar menos com opiniões alheias saber que daqui a 150 anos, toda pessoa que existe hoje nesse mundo estará morta. Nossa que pesado! Sim, mesmo quem nasceu hoje, toda população de mais de 7 bilhões de pessoas desse planeta não existirá daqui a 150 anos. Estamos aqui de passagem… (droga, eu prometi que não seria clichê nesse texto).

É desconfortável falar sobre a morte, porém é só por causa dela que a vida tem significado e razão. Os grandes feitos da humanidade certamente não aconteceriam se não fosse a consciência sobre a finidade da vida. Nada faria sentido sem a morte, o certo e o errado, as lembranças e o legado. Pior do que ter medo de morrer, é passar a vida toda com medo de viver.

“Mas tenho medo de me arriscar…” Pois é, toda pessoa que é melhor que você em algo certamente errou mais que você neste mesmo ”algo” até chegar lá. Será medo do risco ou do esforço? Seja o medo que for, coragem não é a ausência dele, é fazer algo apesar de estar com medo de fazê-lo. Uma pessoa que não tem medo não é corajosa, inconsequente talvez, mas coragem de verdade tem todos aqueles que fazem com medo e estão dispostos a assumir os riscos.

Não há sabedoria verdadeiramente adquirida sem decisões erradas. Sem o fracasso para ensinar somos ilusões prestes a desmoronar. E você vai morrer. E aí, quanto tempo mais vai esperar para viver o que te resta? Ah! Mas precisamos reclamar das coisas insignificantes o tempo todo e esquecemos da gratidão. E na festa da virada quando resmungar que a cerveja está morna ou que o salgadinho está ruim, lembre-se que tem pessoas passando a meia-noite no hospital. Tem pessoas que irão sofrer porque pessoas não estarão mais na mesa neste ano.

A gratidão pode te salvar todos os dias. Mesmo assim, você precisa correr. A ampulheta da vida não vira. Se você cair de um precipício amanhã o planeta seguirá girando normalmente sem derramar uma lágrima. As pessoas ao nosso redor vão morrer, mesmo assim tantos vão deixar o abraço para a segunda-feira, amar segunda-feira, junto com a dieta e a academia. Acha essa uma realidade dura? Muito pior é quando se percebe que o tempo passou e as oportunidades não voltam mais.

Você vai morrer, mas isso não significa que não tenha uma vida inteira pela frente. Não há uma vida sequer que não tenha problemas, pequenos ou grandes eles sempre se fazem presentes. Desejo que os seus sejam a lentilha queimada ou manchar a camisa branca antes da meia-noite. A felicidade está no caminho, e em um caminho onde resolvemos os problemas e percalços da vida, diariamente. Felicidade é superação, é saber que hoje somos melhores que fomos ontem, é aprender e crescer.

Desejo que seu ano seja rico de coisas que não custam nada. A felicidade genuína está naquilo que não pode ser comprado. É a presença e o carinho, as risadas e os abraços. É viver o presente, se sentir vivo, fazer o bem e ganhar de volta um sorriso. Você vai morrer, e eu também. Então que cada um de nós façamos valer nossa vida, sabendo que viver é muitas vezes difícil, que haverá dias bons e ruins. Há tanta vida e beleza à nossa volta, as vezes não precisamos de um novo horizonte, e sim de novos olhos. Um feliz ano novo! Faça você mesmo.

 

P.S.: Obrigado a todos que leram meus textos e acompanharam minha coluna neste ano. Vou tentar melhorar isso no ano que vem (“segunda eu começo” rs). Gratidão a todos, de coração.

 

Francisco Melgareco