Valdiocir Bolzan

O Titino
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1 – Casa comercial do Titino, onde hoje é a farmácia Nicola (ao lado da Pormenos). 2 – Antigo Clube Recreativo, depois Teatro Municipal, onde hoje é o Centro Cultural Diolofau Brum.

Na esquina das ruas Plácido Gonçalves e Coronel Veríssimo, havia em tempos passados um prédio de pouca aparência, construção muito antiga, onde foram estabelecidos diversos negociantes, entre eles dois rapazes chamados José Franco Neto (Zeza) e Celestino Goularte (Titino), sendo ambos primos e muito amigos.

De chegada em São Sepé, eles fizeram boa camaradagem com os rapazes daqui, notando-se logo que eles eram de uma conduta inatacável, muito sérios nas suas transações comerciais, razão pela qual o seu negócio progredia aceleradamente.

Eles eram os rapazes que, pela sua boa apresentação e delicadeza, no trato com a nossa gente, predicados esses que muitos não têm. Naquela época florescia o Clube Recreativo, de tão saudosa memória que foi inaugurado no ano de 1907. Esses rapazes compartilhavam dessa sociedade otimamente organizada.

Titino era tão correto, tão distinto e sincero que, logo de chegada aqui na Vila, começou a explicar às famílias para que não surgissem dúvidas que era noivo em sua terra natal (Encruzilhada) e namorava uma moça com a qual iria se casar. Titino era um rapaz moreno, de regular estatura, simpático, de cabelo ondulado, sendo de uma bondade à toda prova. Esse jovem negociante tocava violão e cantava modinhas, tendo uma bela voz, por isso prontificava nas serenatas, divertimento esse muito em voga na sociedade daquela época.

Um dia, esse apreciado rapaz comunicou aos seus amigos que iria à Encruzilhada realizar o seu casamento. Despediu-se de todos, visivelmente emocionado, deixando transparecer em sua fisionomia que algo de ruim lhe estava reservado, que os seus dias estavam no seu término. Infelizmente isso aconteceu. No dia do seu enlace, ele estava limpando o seu revólver e por um descuido a arma caiu no chão e com o choque detonou uma bala que restava, indo atingir o seu corpo em um lugar mortal, prostrando-o desfalecido no local do desastre, ou seja, em seu quarto.

O pobre e benquisto rapaz antes de exalar o último suspiro, pronunciou estas tristes palavras: “Ó mundo! Adeus São Sepé”. Essa notícia telegráfica correu célere por toda a Vila e a tristeza foi geral, perdurando esse comentário por vários dias, chegando ao conhecimento das pessoas residentes em todos os distritos.

Os negociantes, ao tomarem conhecimento dessa triste notícia, cerraram as portas de suas casas em sinal de pesar pelo desaparecimento desse bom colega. O Clube Recreativo, local preferido pelo Titino, cessou as festas por um período de 30 dias em razão do trágico acidente ocorrido com o rapaz.

Jamais apareceu em São Sepé um rapaz que tivesse as qualidades morais do desventurado Titino.

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Teatro Municipal no dia em que iniciou a sua demolição em 20 de julho de 1970.

 


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