Valdiocir Bolzan

O “Perú” em apuros
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Quem lê o título acima, julga tratar-se de uma ave conhecida e apreciada em banquetes. Entretanto, é completamente diferente do assunto relacionado na presente matéria. A mocidade dos tempos idos apreciava muito as reuniões dançantes realizadas em casas familiares.

Na Rua 24 de fevereiro, hoje Lauro Bulcão, nas imediações da residência do Sr. Angelo Bolzan (Angelin Bolzan), existia, há muitos anos, um casebre velho, de material, pertencente a um mulato já pendendo para a velhice, chamado Geraldo Pereira Maia, homem de família grande. Ele era muito religioso, verdadeiramente fanático por tudo que se relacionasse à Igreja, por isso tornou-se muito popular e apreciado por todas as irmandades da Vila.

O Geraldo fundou a Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, a santa da sua devoção no seu dizer. Confiava na cooperação de todos os sepeenses que dizia serem graúdos da “suciadade” (sic) lá de cima (seu português). Também dizia que ia “arcançá” (sic) muito sucesso. Dizia que a sua religião ajudava muito os operários pobres daquela época (1905 em diante).

Ele tinha filhas moças, razão pela qual fazia bailes em sua casa e também como meio de negócio. Uma vez quando se realizava um baile em sua casa, estavam ali diversos rapazes do lado de fora apreciando essa diversão. Encostado a uma janela estava um homem alto e magro, esquisito como o demônio, daqueles que a natureza não lhe foi pródiga quanto ao físico. Chamava-se João Perú, apelido esse que o irritava bastante, principalmente quando pronunciavam o referido apelido. Dois rapazes bem possantes, com o fim único de maldade, se colocaram sorrateiramente atrás dele, que não pressentiu isso e nem sonhara o desastre que lhe estava sendo preparado. Inesperadamente eles pegaram-no e o jogaram do alto da janela para dentro da sala. Quando o pobre homem ao chão, numa posição irrisória e mal trajado deu expansão a uma (necessidade natural e fisiológica), que não esperava, cujo ruído ecoou por toda a sala.

Foi um grande susto que o coitado levou, porém serviu de divertimento aos que estavam na sala e também aos que estavam no lado de fora. Os desordeiros, sem perca de tempo, trataram de escapulir para não serem descobertos.

O João Perú ficou tão atordoado que se levantou e saiu correndo desordenadamente para fora, passando por três quintais de casas vizinhas, perseguido por cachorros que também se alarmaram pelo acontecido.

Não se soube, nessa noite, qual o rumo que ele tomou. Nessa ocasião, assim que serenou um pouco aquele barulho, o bondoso Geraldo, de acordo com a sua condição e complexo de inferioridade daquela época, não pôde reagir e chegando à porta de sua casa disse para quem lhe ouvia: “Estes moço famia parece que não tem inducação. Garanto que são fios de homes bom, mas não têm religião arguma, não acreditam nem em Deus, não respeitaram a minha casa, nem o amigo João que saiu tão envergonhado. Assim, eles com esse modo tão feio, nunca terão as graça de Nossa Sinhora da Cunceição, essa santa tão boa que trais tanta felicidade a nóis da minha casa e a toda as famia de São Sepé”.

Foram essas as suas humildes palavras proferidas na época e de acordo com o seu vocabulário.

 

NOTA DO COLUNISTA

Angelo Bolzan, meu pai, residia na Rua Lauro Bulcão, esquina com a Rua 7 de Setembro, onde hoje fica o ponto de mototáxi.

Provavelmente a casa do Sr. Geraldo ficava na Rua Capitão Emídio Jaime de Figueiredo, esquina com a Rua Lauro Bulcão, pois no local atualmente encontram-se pedras de construção em alicerces desativados. O imóvel hoje pertence à irmã do colunista, Sra. Leonida Bolzan Giuliani.

 

 


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