Valdiocir Bolzan

O Juca Fogo gostou do cinema
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Lá para as bandas da Vila do Formigueiro, que pertencia a São Sepé, existia ha muitos anos, um velho carpinteiro, chamado João de Tal, popularmente conhecido por Juca Fogo, alcunha essa que o encolerizava bastante. Ele era alto, magro, de olhos azuis e usava cavanhaque. Era uma figura grotesca, semelhante a um bode.

Certa vez foi à Cachoeira do Sul, e a noite foi assistir a um cinema, diversão essa que esse pobre caipira não conhecia, mas sabia, por ouvir dizer, que eram umas figuras que apareciam num pano e se mexiam. O Juca Fogo, com certa timidez, aproximou-se do Cinema Coliseu e, chegando à bilheteria, pediu uma passagem para entrar naquele tróço, foram suas palavras. O vendedor de entradas, ouvindo as suas expressões, sorridente, compreendeu tudo. Apoderado da entrada, ele, receioso e desconfiado, entrou e sentou-se na sala de espera. Nesse momento chegaram ali diversas pessoas e lhe fizeram companhia.

Chegada a hora da exibição do filme, deu o sinal convencionado na luz. Naquele tempo era por esse meio. Os espectadores que estavam esperando, ato continuo, se levantaram e se encaminharam para o salão e tomaram assendo nas poltronas. Momentos após rompeu a orquestra, escureceu o salão e começou a passagem do filme. O Juca que ignorava aquilo, permaneceu no mesmo lugar, ate finalizar o filme, apreciando os bonitos cartazes de anúncios que estavam ali expostos.

Quando ele regressou a São Sepé, contava maravilhado, do cenema (sic) que viu em Cachoeira. Dizia que chegou num galpão grande que chamavam de culiseu (sic), comprou um cartãozinho e entrou numa sala bem alumiada da tal luiz inletrica (sic). Depois chegou mais gente ali, entre homens, mulheres e crianças. Passados alguns minutos a luiz piscou (sic), e aquela gente embocou num varandão todo escuro. Começou a tocar música lá dentro e todos ficaram quietos. Ele não acompanhou aquele mundaréu de pessoas porque desconfiou que fossem uma suciadade (sic) com o diabo, e mesmo porque nunca foi intremitido (sic).

Resolveu ficar sozinho apreciando o cinema, que era o seguinte: umas figuras pintadas num papel e coladas num quadro grande. Se via um homem a cavalo, de chapéu de aba larga e outros de trabuco na mão, tendo os olhos bem arregalados, fazendo menção de dar tiros. Dizia que era uma coisa muito bonita que tinha visto no tal barracão de Cachoeira, e que se admirava muito que em São Sepé ainda não conhecesse esse tal de cenema (sic).

E assim envelheceu o Juca Fogo, sendo divertimento de todos que conversavam com ele.

 


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