Valdiocir Bolzan

A música das ruas
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Há muitos anos em São Sepé tudo que aparecia por aqui era estranho ao lugar e constituía uma grande novidade, fazendo um alvoroço na Vila. O que era mais aceito e que punha a população em movimento era a música das ruas notadamente quando ela era executada por uns músicos ambulantes que de tempos em tempos por aqui apareciam e normalmente se locomoviam a pé, importando isso em grande sacrifício.

Certa ocasião apareceu na Vila um esmoleiro completamente cego que tocava violino, sendo acompanhado ao violão por um companheiro que o conduzia pacientemente pela mão.

Outra ocasião surgiu outro desses andarengos sem destino, trazendo consigo um pesado realejo e era na realidade um verdadeiro artista. A música do realejo nunca variava porque era sempre praticada na mesma sintonia. Os curiosos que cercavam o músico não distinguiam as peças umas das outras, pelo mau ouvido e pediam ao musicista que tocasse outra mais bonita. Ele dava uma desculpa qualquer, fingia que mudava uma coisa no realejo e tocava a mesma marca. Esse espertalhão fez uma boa coleta, apresentando o seu vasto repertório tão do agrado dos ouvintes.

Quando, inesperadamente, esses músicos davam aviso pelos seus instrumentos nas ruas locais, a população despertava; as crianças alvoroçadas corriam e se juntavam a eles, as empregadas das cozinhas, ao perceberem aquele movimento quase sempre perto das casas onde trabalhavam, vinham aos portões e tão elevadas ficavam ouvindo aquelas músicas e até se esqueciam dos seus afazeres domésticos. Até os velhos trôpegos, achacados pelo reumatismo, também se revigoravam nesses momentos, esquecendo momentaneamente as suas doenças, e chegavam às portas para ouvirem aquelas melódicas valsas, executadas com tanto sentimento que faziam eles se recordar, saudosos dos seus bons tempos, quando eram felizes e tinham saúde e mocidade.

Após passarem alguns dias na Vila esses aventureiros partiam, talvez escarnecendo a nossa gente. É bem provável que quando eles já estivessem bem distante da nossa terra, na primeira jornada, nas horas silenciosas da noite, haviam de dizer consigo que os sepeenses eram autênticos gaúchos dos pampas, que não negavam a hospitalidade ao forasteiro e que, sobretudo, veneravam as tradições da sua querência.

 


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