Valdiocir Bolzan

A Festa das Cavalhadas
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Esta festa foi introduzida no Rio Grande do Sul pelos portugueses e, aqui em São Sepé, foi levada a efeito por Vicente Saldanha, o maior gaúcho que esta terra produziu.

Para tomar parte nas cavalhadas era preciso que o cavaleiro fosse campeiro, e se apresentasse com um bom cavalo, porque esta diversão simulava uma guerra entre dois partidos: Mouros e Cristãos, trajando estes vestimenta azul e aqueles encarnada, ornamentadas por lantejoulas, produzindo com a luz solar, um brilho encantador.

Usavam bombachas brancas e calçavam botas e esporas. Os Mouros se apresentavam de quepes da mesma cor do uniforme e os Cristãos de chapéu preto com a aba tombada na frente, tendo uma capa pelo cotovelo. Os cavalos participavam da fantasia dos lutadores. Esses cavaleiros, desempenhando esse papel, serviam- se da lança, espada e pistola, porém essa carregada somente com pólvora. Nos apeiros dos cavalos eram colocados diversos guisos. Uma dessas festas foi realizada no mês de maio de 1901, na antiga Praça das Mercês, por ocasião da Festa do Espírito Santo (hoje Divino Espírito Santo), da qual era imperador festeiro o Sr. Valentim Macedo.

Nesse tempo a praça ainda era um campo aberto e a velha Igreja Matriz ficava completamente isolada, não havendo casas nas sua proximidades. Ao seu lado foi armado um castelo, trabalho este feito de tabuas e com muita perfeição. De um certo ponto afastado da Vila, foi que os combatentes entraram para dar inicio à guerra simulada, sendo que os Mouros vieram pela Rua Plácido Chiquiti e os Cristãos pela Rua Plácido Gonçalves. Essas ruas estavam muito bem ornamentadas com bandeirinhas de varias cores, demonstrando ser um trabalho de apurado gosto pela disposição em que elas estavam. Ali na praça estava a população em peso, não faltando nem as infalíveis quitandeiras com os seus tabuleiros de doces, posicionadas na frente da Igreja.

A banda de música estava colocada numa casa onde posteriormente funcionou a associação rural, depois Alfaiataria Pinto do Floriano Peixoto Pinto (Peixoto), onde hoje funciona a Farmácia São João. Foi solene a entrada dos cavaleiros conduzindo cada um uma lança no ar, em movimento giratório e fazendo diversas evoluções nos seus bonitos cavalos ao som da musica que nesse momento executava uma marcha de guerra, acompanhada das aclamações daquela multidão e ao espoucar de foguetes que subiam às alturas. Junto com eles vinham diversos mascarados a cavalo, estando todos armados nas mesmas condições dos lutadores da guerra simulada.

Para a realização dessa festa com pleno êxito, os lutadores ensaiavam dois meses antes, sem falhar um dia, num local muito distante da Vila para não serem vistos. Os combatentes correndo à toda brida, procuravam tirar com a ponta da lança em bonecos de papel chamados Honifrates, que eram colocados nas extremidades do campo e outros bem no centro. Haviam prêmios para os vencedores. Depois de diversos combates, os Cristãos, numa carga cerrada investiram contra o Castelo onde estava a dama que fazia parte dos Mouros.

Ela se chamava Floripa. Os Mouros, entricheirados nas imediações do Castelo disparavam as pistolas contra os Cristãos que queriam arrebatá-la, embora custasse muitas vidas. A fusilaria foi tremenda de parte a parte. Terminada a munição se entreveraram de espada, e nessa ocasião Floripa foi arrebatada pelos Cristãos, sendo por um deles conduzido na garupa do seu cavalo para bem longe dos inimigos.

Finalmente, depois de muito lutarem, os Mouros foram rendidos. Entrando depois em entendimentos, reconciliaram-se as partes debatentes e depois partiram para a parte mais importante daquela festa que era a das argolinhas. Elas eram colocadas no alto em um arame entre dois postes.

Essa era uma prova muito difícil e dependia de muito golpe de vista dos cavaleiros. O local onde estavam essas argolinhas era ali entre a antiga loja A Insinuante e outro ficava na frente dessa loja. A partida dos cavaleiros era na esquina das Ruas Clemenciano Barnasque e Coronel Veríssimo, nas proximidades do Centro Telefônico que posteriormente foi comandado pela Dona Eponina Rossi. Quando partiam deste local numa tremenda corrida, um mascarado também saia atrás e atirava a lança por cima do arame.

Dificilmente eles conseguiam tirar a argolinha, que era totalmente feita de ouro, semelhante a uma aliança.
Quando acertavam, ela era oferecida a uma moça que estivesse mais próxima do local.

Essa festa durava três dias e sempre com o mesmo entusiasmo à noite todos os cavaleiros vinham assistir a novena e depois no velho Teatro Municipal, cuja demolição ocorreu no dia vinte de julho de 1970 (possuo a fotografia), dançavam as marcas regulamentadas da festa. Os seus trajes eram os mesmos, só deixando em casa as armas e as esporas. As damas acompanhavam as vestimentas dos cavaleiros, estando vestidas de Mouros e Cristãos, respectivamente.

Essa festa foi muito comentada pelas pessoas que tiveram o prazer de assisti-la, recordando com muitas saudades no decorrer dos anos, evento este que nós atuais sepeenses jamais presenciaremos uma diversão igual realizada na antiga Vila de São Sepé.

 


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