O machismo nosso de cada dia mata – Pedro Corrêa

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Durante muito tempo sustentei a tese de que o feminismo era puro vitimismo. Afinal, eu sou homem e já nasci em uma época que as mulheres têm mais voz. Sempre tive minha mãe como exemplo de determinação. Ela faz tudo que um homem faz, porém, melhor! Durante anos eu defendi que a mulher tinha que ser recatada. Que a culpa do crime sexual estava ligada ao short ou saia curta. Eu acreditava de fato nisso. Era fácil e cômodo para mim não me indignar com o fato da mulher ser extremamente coadjuvante.

O machismo cega. Ele é banalizado todos os dias, nas mínimas e nas grandes ações. A mulher sempre foi motivo para xingamentos diretos ou indiretos. Perco as contas de quantos filhos da Santa, corno, ou vai àquele lugar, eu já ouvi. Discursos ou frases machistas que são replicados com naturalidade, inclusive, por mulheres. Sempre me perguntei o porquê das pessoas xingarem a mãe, a mulher, irmã, namorada, esposa, a sogra de uma pessoa. Será que ofende mais? Parece que a masculinidade de um homem é posta à prova quando ele é chamado de chifrudo. Em contra partida, ela é ratificada quando o chamam de garanhão.

A quantidade de garotas que um homem pega é igual a sua popularidade, e, inversamente proporcional, em termos de julgamento, quando quem beija mais são as garotas. O hit do verão, que foi banido das plataformas streams, exemplifica, na prática, o que eu estou falando. Não cabe aqui repeti-lo, é nojento demais, é danoso, criminoso, inclusive. Em uma sociedade que não aprendeu a enxergar além da burca, ter uma letra com apologia ao estupro é mais perverso ainda. Vivemos em um mundo que ainda corta o clitóris de mulheres para que elas não sintam prazer. Moramos em um país que tem uma das mais altas taxas de estupro. Segundo dados da Segurança Pública – publicados em novembro de 2017 – cerca de 50 mil pessoas foram vítimas de estupro no Brasil, 70% delas crianças e adolescentes. O Rio Grande do Sul ficou na 8ª colocação. De acordo com os registros, 4.144 pessoas foram assediadas sexualmente em solo gaúcho. Ainda assim, convivemos em uma sociedade que ainda culpa o short pelo atentado, e não o agressor.

Estamos na era do smartphone, da tecnologia, mas que parece ainda não termos saído da idade média quando o que está em pauta são assuntos sociais. Nunca será aceitável uma letra tão desastrosa quanto essa. Enquanto houver injustiças e preconceito de gênero, haverá mais “mimimis”, sim! A nossa geração Nutella está calando e fazendo a geração da catapulta engolir seus preconceitos todos os dias! Embora a luta seja árdua, a sociedade está amadurecendo.

 

Pedro Corrêa

Jornalista e pós-graduando em Mídias Sociais e Digitais pelo Centro Universitário Franciscano