Ivan Cezar Ineu Chaves

A necessidade de recuar
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A frase célebre foi proferida pelo líder da antiga União Soviética, Vladimir Ilitch Lenin, e ficou plasmada na história do pensamento político do século XX. Dizia Lenin: “Às vezes é necessário dar um passo para trás para poder dar depois dois passos à frente”.  Há muito conteúdo nessa frase e ela inspira o artigo que levo hoje aos meus leitores.

Não se trata de exercício de saudosismo e nem de apologia ao recuo, muito antes pelo contrário, sou daqueles que acredito no contínuo aperfeiçoamento das pessoas e da sociedade, pois o indivíduo e seu coletivo devem sempre focar o futuro, estabelecer objetivos e metas. Aceitar desafios e, sobretudo, ter em mente a necessidade de que o dia do amanhã seja melhor que os dias passados.

Ocorre, e aqui é necessário entender a frase célebre de Lenin, que em determinados momentos quando se percebem a existência de inconsistências e de erros que comprometem qualquer base para o futuro, se faz imperioso voltar para trás – zerar o cronômetro – restabelecer bases sólidas para, só depois, pensar em evoluir.

Dar passos para trás não significa, portanto, necessariamente que se está retrocedendo, mas pode ser um indicativo de inteligência e de razoabilidade, conquanto reconhecendo-se que estratégias ou decisões anteriores não deram certo, melhor é voltar para trás, recuar, e uma vez em porto seguro preparar a nau para enfrentar novos mares.

O Brasil contemporâneo está clamando por alguns recuos, por passos para trás, pelo retorno de alguns modelos que davam resultados infinitamente mais consistentes em prol do coletivo e da segurança individual das pessoas.

O episódio do assassinato de um preso dentro da Penitenciária de Alta de Segurança de Charqueadas – a chamada PASC – nos mostra claramente que nosso sistema Penitenciário faliu e que, inexoravelmente, precisa ser “zerado” e que é imperioso que se abra um debate profundo com a sociedade sobre a necessidade de voltar para trás em alguns setores que são absolutamente essenciais para o bem estar social.

No tempo de nossos avós os Municípios possuíam as chamadas “Cadeias Municipais”, que eram micro penitenciárias locais – algumas velhos casarões – onde cumpriam pena os munícipes que eventualmente cometiam deslizes. Foram extintas. Em seu lugar o Estado assumiu a tarefa de gestor de todo o sistema penitenciário e passaram a existir somente Presídios grandes. Incontroláveis e precários. Mandam dentro dessas casas prisionais os presos, enquanto a figura do “Estado” é solenemente desmoralizada.

Mais grave ainda é a dura realidade de que dentro dessas “Casas prisionais” se mistura o elemento que teve a primeira experiência criminal com bandidos “pós graduados”, de maneira que o neófito no mundo do crime seguramente sairá da cadeia especializado, aperfeiçoado e fatalmente vinculado a um líder maior e à alguma facção criminosa. De criminoso principiante passará, automaticamente, a marginal profissional.

O retorno das velhas cadeias municipais e que ficassem elas reservadas exclusivamente para criminosos primários, isto é, para aqueles que cometeram seu primeiro crime, certamente nos recolocaria no caminho certo. Corrigir-se-ia um erro e, voltar ao passado significaria um passo para trás para empreender novos passos rumo a um futuro mais promissor.

Enquanto isso, quase todos os municípios brasileiros pagam altos salários a seus vereadores, mas não investem em setores como esse que poderiam contribuir – e muito – com a segurança pública. Claro que esse tema é por demais extenso e na nesta crônica só foi abordado o viés penitenciário. Mas pode ser entendido e estendido para muitos outros setores de interesse comunitário.