Fabian Lisboa

A minha história de Bob Dylan
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Baseado em fatos reais…

Antes de começar a contar essa história vou avisando que às vezes nem eu acredito nela.

Estava em Porto Alegre visitando um amigo no mesmo dia do show na cidade do meu maior ídolo musical, Bob Dylan. Eu não ia ao show, não tinha dinheiro e estava triste por isso. Meu amigo tentava amenizar minha tristeza e me convidou para sair. Disse que ia me mostrar à noite Porto-alegrense. Sou do interior e sempre quis conhecer a noite da cidade.

Fomos a cidade baixa, bairro boêmio de Porto Alegre, que fica perto da casa do meu amigo. Umas três quadras e estávamos lá. Começamos nossa turnê pelos bares entre gurias lindas, cigarros e bebidas. O álcool já começava a fazer efeito, a vida aos poucos se tornava mais alegre, as coisas, as pessoas mais coloridas.

Entramos em um bar, lá no fundo uma banda de blues arrancava aplausos dos presentes. Não vi o tempo passar e quando o guitarrista agradeceu o público e anunciou que era a última música, olhei para o relógio e os ponteiros marcavam duas da manhã.

Vi que meu amigo estava conversando com uma guria e não quis incomodar. Falei para ele que tinha que ir embora, ia voltar pra minha cidade pela manhã. Era para ele ficar, que sabia o caminho de volta. Pedi a chave da casa, ele me deu uma e ficou com outra. Agradeci a noite, me despedi e fui embora.

Na rua, na volta pra casa do meu amigo, vi alguns mendigos sentados numa escadaria de um prédio velho abandonado. Perto deles um tonel cortado, onde eles acenderam uma fogueira dentro pra espantar um pouco o frio que fazia naquela noite. Percebi também que alguns tinham garrafas de alguma bebida, acho que uísque. De pé no fim da escadaria um homem com um violão tocando algo. Aproximei-me para ouvir melhor. Aqui a história fica estranha e surreal.

Chegando perto vi um senhor que aparentava ter uns setenta anos. Estava vestido com um chapéu branco, paletó preto, camisa branca, calça e sapato preto. Cantando The Times They Are A-Changin, do Bob Dylan.

A musica estava sendo executada maravilhosamente bem, fiquei ali hipnotizado.

Ele tocou mais três músicas, todas do Dylan. Quando deu o ultimo acorde, virou pra sua platéia puxando para baixo a aba do seu chapéu e agradeceu. Colocou o violão nas costas e entrou no banco de trás de um carro todo preto, parecia uma limusine, que eu não tinha visto quando passei por ela. Fechou a porta e foi embora.

Estava escuro, só o que iluminava o lugar era a lua e o fogo do tonel, o álcool ainda afetava meus sentidos, não havia mais ninguém ali comigo a não ser os mendigos, mas tenho certeza que aquela noite eu vi Bob Dylan tocar.