Conquistas sem sentido – Igor Trindade de Souza

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A vida é um espetáculo constituído por milhares de episódios, que também são denominados como dias. A cada amanhecer inicia-se um novo episódio das nossas histórias, uma página em branco que recebemos, mas com uma peculiaridade, o instrumento de “escrita” é o tempo, sendo assim, não temos a discricionariedade de recomeçar do zero e sequer de apagar os erros cometidos.

Por isso, temos que ser usuários de uma imensa cautela em relação aos motivos de nossa luta, porque as nossas conquistas devem necessariamente ter sentido para que o nosso último episódio tenha um final coerente. Porém, estamos vivendo em uma época de omissões, onde a simples emissão de uma opinião pode trazer consequências negativas, fazendo com que pessoas evitem tratar sobre assuntos polêmicos. É preocupante, pois determinadas omissões podem permitir a sequência de atrocidades estúpidas, como a atuação de Fallon Fox no MMA.


Fox nasceu homem no ano de 1975, casou-se prematuramente aos 19 anos com sua namorada quando soube que ela estava grávida e juntou-se a Marinha dos EUA, atuando como especialista em operações da USS Enterprise. Posteriormente, sofreu intensos estresses psicológicos em relação ao gênero não resolvido e a não aceitação, chegando a trabalhar como caminhoneiro para conseguir o valor necessário para a realização da cirurgia, que ocorreu no ano de 2006. Até então, uma pessoa comum gozando do seu livre arbítrio sem trazer qualquer consequência a seus semelhantes. Mas a atrocidade está no ano de 2012, quando a então senhora Fox estreia no MMA na categoria feminina, mesmo após desfrutar de uma estrutura corporal masculina completa por aproximadamente 30 anos. As competidoras da atualidade criticaram fortemente o caso, alegando que qualquer confronto será desigual, o que se comprova pelo histórico de lutas e cenas chocantes da desproporção física, onde as adversárias de Fox saíram com ferimentos mais graves, comparando aos ferimentos de uma luta contra mulheres naturais.

É muito instigante ouvir uma pessoa experiente falar, “eu aprendi isso, na escola da vida”. Inquestionavelmente, a vida é uma escola, mas que nos exige um nível altíssimo de capacidade cognitiva e emocional para que consigamos administrá-la com louvor. Isso acontece pelo fato dos fatores avaliativos estarem na ordem inversa, pois em uma escola normal nos temos a lição e posteriormente a prova, mas na vida, temos a prova para depois a lição. Isso faz com que o aprendizado seja apreendido em nossas cabeças, de forma que não esqueçamos mais.


Dentre essas lições recebidas, elenco uma que é transmitida em ambas escolas, sendo ela, a necessidade de termos respeito com as pessoas e suas diferenças. Fico surpreso ao notar a insistência e tamanha repetição de palavras óbvias, pois nunca compreendi a dificuldade que temos em aceitar a unicidade de cada ser, tampouco a consciência de que apesar de sermos únicos, não somos exclusivos. Desta forma, que os ferimentos desproporcionais dessas atletas nos proporcione uma noção de razoabilidade e sentido da luta por igualdade a qualquer custo, porque diferenças existem, e jamais deixarão de existir e a igualdade absoluta nem sempre será justa.

Portanto, devem-se tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida necessária para que se alcance a legítima igualdade. Lembre-se, a igualdade deve ser o resultado, mas não o meio.

 

Igor Trindade de Souza – estudante do 9º semestre de Direito da FAPAS