Adriana Aires

O respeito ao outro é fundamental
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Há dias algumas pessoas têm me perguntado o porquê de eu não estar mais escrevendo para esta coluna, expliquei que era a falta de tempo e que também preciso de algo que me inspire. Eis que, nos últimos dias, vários fatos me fizeram voltar ao encontro do papel e caneta, ou mais precisamente, do teclado e da tela do meu computador.

A morte do cantor sertanejo Cristiano Araújo, no dia 24 de junho, foi destaque em inúmeros meios de comunicação, até no exterior, e o que mais me deixou perplexa foram alguns comentários maldosos nas redes sociais sobre o falecimento dele e de sua namorada; discussões sobre quem o conhecia ou não. Como se isso não bastasse, mais tarde o Brasil se depara com fotos e vídeos do cantor morto, imagens estas feitas por profissionais no local de preparação do corpo.

Mas se alguém está achando que o fato aconteceu longe e que isso só ganhou repercussão porque ele era famoso, há também fotos espalhadas de pessoas comuns, que morrem em variadas circunstâncias e alguém aproveita para fazer as imagens e espalhar como se fosse um troféu, e nas redes sociais proliferam comentários.

Estes fatos ocorrem cotidianamente, basta clicar em uma notícia e lá vem uma enxurrada de “pitacos” maldosos, seja em relação a mortes, bullying, violência, entre outras. A internet é algo sensacional, mas ao mesmo tempo se tornou uma perigosa ferramenta de disseminação de ódio. Ódio este de todas as formas e dimensões.

Pergunto sempre que mundo é este em que as pessoas riem com a dor do outro; se vangloriam por espalhar palavras de ofensa, menosprezo e matam por simples prazer?

Se atitudes não forem tomadas, logo chegaremos ao fundo do poço.

E por falar em maldade, é desprezível também o que ocorreu ontem, 3 de julho, com a jornalista Maria Júlia Coutinho, esta que vem ganhando destaque como a moça do tempo no Jornal Nacional.

Desde abril, Maju, como é carinhosamente chamada por seus amigos e colegas, vem adentrando nossas casas com seu jeito alegre, inteligente, transmitindo as notícias de uma forma leve e de fácil entendimento, mas parece que isso causou revolta a um grupo que ainda não aceita que o negro tem os mesmo direitos na sociedade e a profissional recebeu inúmeras ofensas através das redes sociais.

Maria Júlia falou de forma majestosa sobre o episódio e ganhou apoio de uma legião de admiradores, mas sabemos que isso não pode ficar assim, e não porque ela é da Rede Globo, mas porque é humana, merece respeito e racismo é crime e não pode ser visto como algo a ser punido de forma branda, é preciso rigidez. A alma não tem cor e é lamentável que séculos tenham se passado e para muitos a negritude ainda seja sinônimo de inferioridade.

Maju representa todos os negros e negras que já nascem sabendo que há uma luta a mais na vida: a de provar que há uma só raça- a humana; a de mostrar o quão importante cada ser é para a sociedade.

Sabemos que este episódio não é único e nem vai ser, infelizmente. Hoje foi Maju, já foram Marias, Josés, Franciscos, Joãos… uma grande parcela da população. Enquanto as pessoas ficarem repetindo que não existe mais racismo ao invés de falar e discutir o tema, as coisas só tendem a perpetuar de geração a geração.

A causa deve ser abraçada de forma verdadeira. Desde cedo, as famílias devem explicar aos seus filhos que há pessoas diferentes no mundo e que esta diferença é que torna a todos especiais.

Termino meu texto citando o grande mestre Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor de pele, ou por suas origens, ou sua religião. As pessoas são ensinadas a odiar, e se são ensinadas assim, elas podem aprender a amar, porque o amor chega mais naturalmente ao coração do homem que o seu oposto”.

Vamos amar e respeitar!