A sociedade está doente – Francisco Melgareco

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A trágica e triste notícia da implosão do submersível que levava turistas até as ruínas do navio Titanic revelou uma imagem igualmente trágica e triste da face absurda e insensível que a humanidade contemporânea alcançou.

Desde comentários que celebram a tragédia, simplesmente porque as vítimas eram “ricas”, até a satisfação com o acontecimento, passando pelos que consideram que foi uma espécie de punição merecida, pois gastar tanto dinheiro em algo “fútil” seria uma grande “ofensa”, testemunhamos a normalização do ódio como uma forma de satisfazer as dores e frustrações internas de algumas pessoas.

Obviamente não poderia faltar polarização política e ideológica neste contexto. Afinal, vivemos em um momento histórico em que tudo deve ser dividido entre “nós e eles”, tudo deve ter dois lados que se opõe, que se julgam e se odeiam.

Certamente é injusto que, por exemplo, diversas tragédias terríveis que acontecem no mundo não tenham o mesmo “holofote”. Mas é preciso ter bom senso. Muitos mencionaram que o navio com imigrantes, que infelizmente afundou recentemente, não recebeu a mesma atenção midiática, usando isso como justificativa para desejar o pior fim possível às vítimas que perderam suas vidas no submarino. Essa atitude é verdadeiramente doentia e absurda.

Não é pela pouca ou muita exposição de um fato que temos o direito de desejar dor ao próximo, muito menos por discordarmos das atitudes das outras pessoas. No caso em questão, muitas pessoas estão julgando o alto valor gasto em algo “inútil”, mas é muito provável que, se tivessem esses “milhões” ou “bilhões” em suas contas, fariam o mesmo ou até pior.

Pensar como humanidade requer compaixão e empatia. Empatia é muito mais do que simplesmente nos colocarmos no lugar do outro, afinal, seríamos nós naquela situação, reagindo conforme nossos valores, influências e crenças. Empatia é saber que o outro é outro, que ele pode e tem direito de ser, agir e reagir de maneira diferente da nossa. Que o amor, um remédio cada vez mais escasso, cure o ódio, pois a sociedade está doente.

 

 

Texto: Francisco Melgareco