Valdiocir Bolzan

Uma religiosa dos tempos passados em São Sepé
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Comentava-se que antigamente as pessoas iam assistir as missas dominicais na Igreja local somente pelo espírito de curiosidade e não cumpriam as obrigações religiosas, em ao contrário, discutiam política, corridas de cavalos, rinhas de galos, projetos de negócios e outras coisas mais.

Não era o caso da Dona Maria Isabel, uma religiosa digna de apreciação. Ela residia numa casa localizada na Rua Plácido Chiquiti, esquina Percival Brenner, imóvel posteriormente vendido ao Sr. Claudiano Freitas, tendo este construído uma casa nova no local, onde hoje está o Edifício Portal Sul.

Essa bondosa senhora era viúva e tinha em sua companhia uma serviçal e um velho escravo chamado “Pai Mateus”.

Esse preto, de acordo com a sua condição imposta pelos preconceitos sociais daquela época, humilde como era, não encontrava dificuldade alguma o que de si exigia a sua generosa “Sinhá Dona”.

Dona Maria era de uma caridade a toda prova muito sensível aos sofrimentos alheios, por isso era muito cercada pelos deserdados da sorte que, constantemente iam à sua casa suplicar-lhe, por misericórdia, um pedaço de pão do seu farto celeiro.

Sendo excessivamente gorda, a ponto de não poder caminhar (a não serem alguns passos), para comparecer à Igreja, aos domingos, era levada por meio de uma carretinha, puxada por uma junta de bois sob a direção do Pai Mateus que, pacientemente, nesses dias de missa, ia levá-la à casa de Deus.

Por muitos anos esse descendente de africanos viveu nesse piedoso mister, até o desaparecimento dessa sua bondosa protetora que seguiu o caminho da Eternidade, deixando imorredoura saudade à classe daqueles que não tiveram o bafejo da fortuna, e mais ainda aquele negro velho, o seu companheiro de sempre.

Essa foi a história da Dona Maria Isabel, que hoje deve estar ao lado do Pai lá de cima, cumprindo as suas obrigações religiosas sem a ajuda do seu protetor “Pai Mateus”.