Valdiocir Bolzan

Caminhões antigos que circularam em São Sepé
0
522

Eram pouquíssimos os caminhões existentes antigamente em São Sepé, se forem comparados aos dias atuais. A maioria eram importados e de marcas que atualmente não existem mais, pelo menos em nossa cidade. Eram todos movidos somente a gasolina, pois não havia diesel nos postos locais. Convém salientar que por ocasião da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) houve racionamento de gasolina, daí a alternativa foi utilizar o gasogênio que explicaremos o seu funcionamento, como segue:

Segundo informações do Sr. Enio Picada, em setembro de 2009, que foi um dos pioneiros a utilizar este combustível em São Sepé, para obter os objetivos consistia de um recipiente semelhante a um tonel, porém em dimensões bem inferiores, pois media 40 centímetros de diâmetro e 1,30 mt de altura. A parte de baixo, logicamente era fechada e na de cima era colocada uma tampa para completa vedação sendo que para isso era revestida com amianto.

FORD
Ford F8

No tubo era colocado carvão e também poderiam ser utilizados outros produtos que fornecessem energia tais como sabugo, lenha e outros materiais. Mais ou menos na metade do tubo havia um suspiro para saída do ar. Na parte posterior havia uma saída da fumaça que ia em direção a três ou quatro serpentinas (não necessariamente esta quantidade). Após o gás passar pelas serpentinas, passavam por um filtro mais ou menos do tamanho de um bujão pequeno de gás que no seu interior haviam pedaços de sacos de estopa ou tecidos que serviam para filtrar a fumaça que, após ser filtrada, ia diretamente ao carburador. Porém antes havia uma borboleta que era aberta para fins de testar se estava em condições de combustão, para isso era necessário acender um fósforo e se incendiasse era sinal que estava apto a dar funcionamento ao motor. A velocidade destes carros movidos a gasogênio era de 40 a 60 km por hora.

Muitos sepeenses utilizaram gasogênio em seus carros. Entre outros citamos Orlando Fachin, Dorvalino Alberto, Enio Picada (já citado), Felix Simões Pires, Chicão Correa e também os ônibus da antiga empresa Barin que fazia a linha Santa Maria – Caçapava e passando por São Sepé onde eram abastecidos com brasa na antiga olaria de Cristiano Raguzzoni.

Mas voltamos ao assunto principal desta matéria que são os caminhões antigos. Segundo Barbara Ricarda Pires Schumacker (Tia Dinga), já falecida, em setembro de 2009, quando tinha 94 anos, me informou que possivelmente o primeiro caminhão que circulou em São Sepé era de seu pai Felix Simões Pires que residia na localidade de Bujuru. O referido veículo tinha aproximadamente 3 a 4 metros com capacidade para 1.500 quilos. Na realidade, se compararmos aos carros atuais, tratava-se de uma camioneta em tamanho maior. O ano do veículo era de 1928.

Haviam os caminhões da marca Nasch, sendo proprietários João Vicente Freitas Pires, Chicão Correa, João Fraga, Sinval Souza, entre outros. Na realidade as marcas de caminhões predominantes antigamente em São Sepé eram Ford e Chevrolet.

Da marca Studebaker, na década de 1950, eram proprietários Jacy Aires de Siqueira, Dedé, Pedro Aires de Siqueira, Afonso Bigode, Graciliano de Tal, Odilon Luz, Patesco Ineu, entre outros. Da marca Austin, recordamos o caminhão de Almiro Becker. Haviam também caminhões das marcas De Soto, Fargo, que era muito semelhante ao Dodge e Bedeford. Ignoramos os proprietários. Os caminhões da marca Ford eram os mais preferidos antigamente. Citamos os proprietários João Picada que adquiriu um novo em 1940 da Firma Barbieri de Caçapava do Sul, tinha rodado duplo e capacidade para 1.500 kg.

 


 

Particularidades

O primeiro e maior caminhão que circulou em São Sepé foi o Ford F 8 de Alexandre Bolzan que foi adquirido novo em São Paulo com capacidade para 7 a 8 mil quilos. Darci Monteiro tinha um Ford 1951 e Anselino Angelo de David tinha um Ford F 600. Os caminhões da marca Ford eram conhecidos por V8 o que significava ter 8 cilindros. Arnobio Bolzan possuía um Ford F600.

Rico Recke tinha em 1942 um caminhão marca Ford ano 1941. Alcides Elpidio Reck (Pidio Reck) tinha um Ford semelhante ao de Alexandre Bolzan, porém mais velho na época. Também seus irmãos Jandir Reck (Pipi) e Nelson Reck possuíram caminhões da mesma época, isto no ano de 1946. Da marca Chevrolet citamos Cristiano Raguzzoni que possuía um pequeno caminhão que depois foi vendido para João Manoel Nunes, no ano de 1946, representante da Transportadora Expresso Mercúrio.

Eta Mathias tinha um caminhão marca Ford, ano 1946, cujo motorista era o nosso amigo Walmi Mathias que hoje reside em Recife. Haviam também os caminhões marca Dodge. Citamos Eta Mathias que possuía um com eixo de força. Amancio Ribeiro também tinha um Chevrolet. Nas décadas de 1940/1950 Zelio e Odone La Rocca, acompanhado por outros amigos, vieram de Lavras do Sul para São Sepé com uma frota de 5 caminhões, a maioria da marca Dodge. Haviam também os caminhões Dodge (cinco parafusos) que ninguém queria adquirir por ser de qualidade ruim. Cinco parafusos significava o número de parafusos em cada roda.

Não poderíamos de deixar de mencionar os primeiros caminhões movidos a óleo diesel que surgiram em São Sepé. Eram da marca Mercedes-Benz, chamados Bicudo por terem o motor bem à frente da cabine. Eles foram adquiridos entre 1949 e 1950 e os proprietários eram Cristiano Raguzzoni, Saul Brum e João Batista Pinto Pires. Eram todos iguais.

Também havia da marca Alfa-Romeu, também conhecidos por FNM (Fábrica Nacional de Motores) apelidado de FENEMÊ. Anselmo de David adquiriu um. Era proprietário Calixto de David que depois vendeu para Luiz Zago.

Conheci praticamente todos os caminhões citados nesse artigo. Logicamente que existiam outras marcas e outros proprietários que esquecemos ou ignoramos. Estes eram os antigos caminhões que circularam antigamente na nossa querida São Sepé.

 


 

Vila Block

Na Vila Block existia um caminhão marca Ford de fabricação inglesa de propriedade do Sr. Elias Friedrich. Era sobra de guerra, assim era chamado. Em cima da cabine havia adaptação para colocar uma metralhadora.

Com referência ao caminhão Ford F8 (Alexandre Bolzan), citado nesta matéria, o mesmo foi vendido para Nelson Ellwanger que adaptou motor a diesel e posteriormente vendeu para um senhor de São Leopoldo por R$ 8 mil, tendo este adaptado o motor original que era a gasolina e revendido para um colecionador em São Paulo por R$ 100 mil.

 

Foto: Divulgação ford-trucks.com