Suspeitos negam que tenham aplicado golpe milionário contra pecuaristas gaúchos

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A Polícia Civil esteve na quarta-feira, 23, à tarde, no Presídio Estadual de Caçapava do Sul para ouvir os dois suspeitos de aplicar um golpe milionário contra pecuaristas gaúchos. Contudo, por orientação de seus advogados, o atravessador ficou em silêncio. Já o corretor de gado , que trabalharia para o suspeito, foi quem mais prestou esclarecimentos.

Os defensores pediram um prazo à polícia para ter acesso aos dois inquéritos contra seus clientes, mas negam que os dois tenham armado uma fraude, que resultou numa dívida de cerca de R$ 30 milhões com a compra de centenas de animais, o que é considerado um dos maiores golpes do agronegócio do país.

O suspeito foi preso na tarde de terça-feira na casa de uma irmã, em Porto Alegre. Ele estava desaparecido havia uma semana. Já o corretor de gado foi detido na terça à noite em sua casa no Bairro São Judas Tadeu, em Caçapava do Sul.

O delegado Antonio Firmino de Freitas Neto, que responde por Formigueiro, e mais dois policiais civis foram no presídio de Caçapava para ouvir os suspeitos. Eles levaram o inquérito aberto no município, com denúncias de pelo menos 22 produtores rurais que alegam ter vendido gado para o atravessador e não recebido.

Outro inquérito, com mais vítimas do suposto golpe, foi aberto pela Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato (Decrab) de Bagé. Foi por meio de um mandado de prisão feito pelo delegado André Mendes, da Decrab, que a polícia conseguiu deter o atravessador na terça, em Porto Alegre. Foram apreendidas uma caminhonete Fiat Toro, que seria dele, e outra caminhonete Ford Ranger, que pertenceria ao corretor.

Segundo Firmino, o corretor trabalharia com o comprador de gado há dois anos. O corretor chegou a falar com o delegado, mas alega que não tem envolvimento no caso, e apenas vendia os animais que o atravessador comprava.

“Ele disse que todas as transações que fazia eram com a autorização do [atravessador]. E com relação [à ele], disse que em momento algum teve a intenção de enganar nenhuma das pessoas que ele trabalhou, e que vai provar isso – informa Firmino.

Segundo o delegado, o corretor deu a entender que “teria sido enganado”, mas não revelou por quem nem como. O suspeito, porém, não disse onde estaria o dinheiro devido aos produtores lesados.

O advogado do corretor disse nesta quarta à reportagem do Bei, em Caçapava do Sul, que seu cliente é inocente. O defensor, contudo, pediu para não ter seu nome divulgado, em função da repercussão do caso no Estado.

Um novo depoimento do corretor será prestado à Polícia Civil na segunda-feira que vem, quando ele promete dar mais detalhes sobre os negócios. Antes, o suspeito irá tomar conhecimento sobre os dois inquéritos.

 

O ESQUEMA

O atravessador é investigado pelo suposto golpe milionário, que teria lesado mais de 30 pecuaristas do Estado. Ele é natural de Caçapava do Sul, mas reside em Formigueiro. Ele atua há pelo menos dois anos no ramo de compra e venda de animais. Segundo os produtores, o suspeito adquiria o gado por preço acima do valor de mercado, para pagamento a prazo, e o revenderia a preços mais baixos em remates com pagamento à vista.

Um produtor que alega ter sido vítima do esquema disse ter ficado aliviado com a prisão do comprador de gado, e espera que seja feita justiça no caso.

“Se ele não conseguir devolver o dinheiro, que pelo menos a gente consiga arrecadar esses gados”, afirma.

 

ADVOGADA PEDE QUE POPULAÇÃO “NÃO FAÇA JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS”

A advogada Ana Elisa Telesca Mota, de Canguçu, foi contratada na terça-feira para defender o atravessador. Na terça, ela esteve em Caçapava do Sul para falar pessoalmente com seu cliente, que está no Presídio Estadual, e disse que ainda precisava ter acesso aos inquéritos e dos motivos para o pedido da prisão preventiva.

A prisão foi pedida pela Polícia Civil de Bagé e concedida pela Justiça de Caçapava do Sul. De acordo com Ana Elisa, em função do pouco tempo que teve para tomar ciência dos fatos, orientou seu cliente a usar seu direito constitucional de se manter em silêncio.

Mas ela adianta que seu cliente é inocente, e irá prestar informações no momento oportuno.

“Ele não se nega a falar. Provavelmente, nos próximos dias, a população de Caçapava e arredores vai ter a satisfação que querem de saber exatamente o que aconteceu, e o meu cliente vai provar a sua inocência”, diz.

Preocupada com a repercussão do caso, que teria levado a família do suspeito a sofrer ameaças, inclusive a esposa do comprador de gado, Ana Elisa pediu para que a população tenha um pouco de calma neste momento e que espere pela condução do caso pela polícia, pelo Ministério Público e pela Justiça.

“Não façam justiça com as próprias mãos. No momento em que as pessoas vão para a frente (da casa) ameaçar os familiares dele, da esposa dele, estão cometendo um crime ainda maior do que ele foi acusado”, diz a advogada, que atendeu a reportagem do Bei na tarde dest quarta em um hotel no centro de Caçapava do Sul.

 

 

Fonte: Bei