Sobre uma certa espaçonave e uns homenzinhos verdes – Elaine dos Santos

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Onde foram parar a moral, a vergonha, a ética?

Tenho afirmado, em tom de galhofa, aos amigos mais próximos que uma espaçonave alienígena estacionou sobre nós e homenzinhos verdes entraram nas casas, enquanto dormíamos, sugaram os valores que nossos pais e avós ensinaram, embarcaram em suas poderosas aeronaves e rumaram para o espaço. No dia seguinte, acordamos e a vida parecia seguir o seu fluxo normal, mas, de repente, uns e outros começaram a desconfiar que algo estranho estava acontecendo. No ar, reinavam apatia, dissimulação, discursos falaciosos.

O vereador que, na cidade vizinha, entrega cestas básicas no Natal sob alegação que estaria fazendo-o com base nos vencimentos de seu décimo terceiro salário? Como assim, vereador recebe décimo terceiro salário? Não satisfeito, ele ainda informou que não havia retirado diárias ao longo do ano, isso significa que, durante todo o ano, ele não saiu da sua cidade sequer para ir a Porto Alegre em busca de verbas para os seus munícipes – e isso é motivo para orgulho, nobre vereador? Não lhe competiria exatamente retirar diárias, ir a Porto Alegre, Brasília, buscar alternativas para a melhoria do seu município, das condições de vida da população que habita o local que lhe elegeu?

Passamos a atentar para o caso do vereador que, em outro município da região, tornou-se um assistente privilegiado das sessões, pago com o dinheiro público para isso. Ele não integra qualquer comissão existente na Câmara de Vereadores, ele não faz parte da mesa diretiva da Câmara e ele, nos últimos 80 dias, não sobe à tribuna para um pronunciamento – será que ele nada tem a dizer para a sua comunidade, mesmo se considerando que, nesse período, houve a paralisação dos caminhoneiros que mobilizou o país e o seu município em particular? E o seu partido não pode manifestar-se, não pode requerer-lhe o mandato? Será que não existe um suplente de vereador disposto a trabalhar pelo município e, em particular, pela municipalidade?

Dias atrás, acordamos com as emissoras de rádio “em polvorosa”: haviam prendido o vice-prefeito de outro município da região! Não, impossível, aquele motorista de caminhão e, posteriormente, ambulâncias não poderia estar sendo preso sob todas as acusações que lhe eram imputadas. Ele não só foi preso, como continua preso. Tsc…tsc…tsc…se foi o boi c’as corda!

De repente, à nossa volta, Bole-Bole, Sucupira, as cidades fictícias, em que tudo podia acontecer – e acontecia! – tornaram-se realidade. Os casos “estranhos” não se circunscrevem mais a Brasília, eles estão escrachadamente diante de nós. Ao denunciar uma situação “misteriosa” dessas, dias atrás, uma das minhas ex-alunas manifestou a sua preocupação com o mundo futuro que estará deixando para o seu filho, eu repliquei que não tive filhos e que, portanto, não precisava me preocupar com o mundo futuro, mas que estranhava pais e avós silentes diante dos desmandos, do descaso que se verificam em nossas pequenas comunas. Definitivamente, eu acho que aquela espaçonave andou, de fato, fazendo um pouso na terra Brasilis e não ficou apenas no planalto central. Entristece-me ver pais, avós delegarem aos outros a atribuição de lutarem por um mundo melhor para os seus, pergunto-me como, daqui alguns anos, responderão para filhos e netos sobre os motivos que os levaram à omissão.

 

Prof. Dra. Elaine dos Santos

Revisora de textos acadêmicos/Palestrante

Contato: e.kilian@gmail.com

 


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