Caso kiss: saiba como foi o depoimento de cada réu

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Foto: Ricardo Giusti - Correio do Povo


 

Desde quarta-feira, 8, os quatro réus do caso kiss começaram a prestar depoimentos sobre o que aconteceu na noite na noite da tragédia. O primeiro a ficar na frente dos jurados e responder perguntas feitas pelo juiz Orlando Fanccini Neto, Ministério Público e advogados de defesa dos acusados, foi Elissandro Spohr (Kiko), ex-sócio da casa noturna.

 

Elissandro Spohr (Kiko)

Juliano Verardi / IMPRENSA TJRS

Em um relato forte, carregado de culpa e arrependimentos acerca da tragédia, Kiko chorou e demonstrou desespero em algumas partes da oitiva. Depois de uma hora e meia do começo do depoimento, a sessão precisou ser interrompida. Kiko chorava muito e falou: “Querem me prender, me prendam! Tô cansado, cara. Perdi um monte de amigos. Acha que eu ia fazer uma coisa dessas? Não é fingimento, eu não aguento mais”, disse. Depois, em tom mais alterado, ele continuou: “Vocês acham que é fácil. Não é fácil. Eu não consegui pedir desculpa”, gritou.

Sobre os alvarás, Kiko disse que agiu para que a boate estivesse em dia com tudo. Segundo o relato do réu, ele aprendeu a chorar em silêncio na cadeia durante o tempo que ficou preso. O ex-sócio da casa noturna chegou a ficar internado em Cruz Alta, sob custódia da polícia, sendo preso após dar alta do hospital.

Sobre a relação dele com o pai, Kiko explicou que o pai tem uma família e que ele tem outra, com a mãe dele. Que ele é fruto de relacionamento casual e a relação deles é formal. No depoimento, o réu também apontou sobre a responsabilidade da prefeitura e Ministério Público (MP) na tragédia.

 

LUCIANO BONILHA

Juliano Verardi / IMPRENSA TJRS

O auxiliar da banda gurizada fandangueira prestou depoimento emocionado. Desde o primeiro dia de julgamento, iniciado em 01 de dezembro, Bonilha se mostra nervoso e empático com os pais e  das vítimas e sobreviventes da tragédia.

No depoimento sobre a kiss, Bonilha disse estar tranquilo em relação a consciência dele sobre a responsabilidade com o incêndio. Conforme o relato, ele disse que não foi a ação dele – de comprar o artefato pirotécnico- que gerou a tragédia, e sim, a irresponsabilidade do poder público, MP e bombeiros. Em tom de desespero, ele disse: “se for pra tirar as dor dos pais, eu estou pronto, me condenem”.

Sobre os shows com pirotecnia, ele lembrou que a banda já havia realizado esse procedimento com esse mesmo material outras nove vezes e que nunca havia dado problemas. “Acreditava que era tudo seguro”, explicou.

 

MAURO HOFFMAN 

Juliano Verardi / IMPRENSA TJRS

Tido como investidor da boate e alegando que não participava das decisões da casa noturna, Mauro Hoffman manteve-se calmo durante o depoimento. Conhecido por investir na cidade, Hoffman já tinha sido proprietário de dois restaurantes em Santa Maria e era dono de uma outra boate, chamada Absinto Hall, que funcionava em um shopping da cidade.

Na oitiva, Hoffman disse que não se considerava dono da boate. “Eu não tinha nem a chave da kiss”, contou. Ele explicou que se tornou sócio da bote em 2011 por segurança. Segundo ele, tinha medo de perder a boate absinto e, por isso, investiu dinheiro na kiss.

Para sustentar a tese de que ele não tomava conhecimento e apenas tinha participação nos lucros da kiss, Hoffman falou que não permitia o uso de materiais pirotécnicos dentro do absinto por achar perigoso.

Sobre a tragédia, o ex-sócio da casa noturna disse que o ponto de táxi em frente a boate atrapalhou, pois, segundo ele, as pessoas se “amontoavam nos táxis”.

 

MARCELO DE JESUS SANTOS

Reprodução/ TJRS

O vocalista da banda gurizada fandangueira foi o último a prestar depoimento nesta fase do julgamento. Nervoso, o vocalista da banda disse que entrou em desespero na hora da tragédia.

Sobre o incêndio, desesperado, o Marcelo explicou o que passou pela cabeça no momento do fogo. “Eu disse vou apagar. Na minha cabeça eu ia apagar. Tive uma chance só de apagar o fogo e a chance que eu tive eu não consegui. O extintor não funcionou. Entrei em desespero de cima do palco, não sabia o que fazer”, relatou aos prantos.

Santos disse que ficou inconsciente e foi retirado da boate pelo seu irmão. Conforme o relato do vocalista, ele acordou no estacionamento do supermercado que fica em frente onde a boate funcionava. “Acordei no meio dos mortos”, contou.

Durante as oitivas, o juiz aposentado Pedro Bortoluzzi, chegou a prestar depoimento como testemunha abonatória de Luciano. De acordo com Bortoluzzi, Luciano é uma pessoa apaziguadora e amiga de todos.

Hoje, Marcelo trabalha como pedreiro, leva uma vida sofrida, de trabalho pesado e vive um apartamento popular. O vocalista faz tratamento para o pulmão, depois que teve os órgãos comprometidos por causa da covid-19.  Santos ocupou o  mesmo leito de UTI da mãe dele, minutos depois que ela perdeu a vida por conta da doença.