Ivan Cezar Ineu Chaves

O abismo do lixo
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O recolhimento do lixo tornou-se um dos problemas mais encrencados para os prefeitos das cidades brasileiras. É difícil conversar com qualquer administrador público municipal, sobretudo nas pequenas cidades, que não despeje um mar de lágrimas e lamúrias envolvendo esse indispensável serviço. Cuida-se de uma atividade que não se limite à simples coleta de resíduos, mas abrange também a destinação e o tratamento.

As pessoas com idade mais avançada sempre viram esse serviço ser prestado exclusivamente pelas prefeituras que num passado nem tão distante assim utilizavam velhos caminhões improvisados. Algumas cidades chegaram a montar sítios de triagem e compostagem orgânica. São Sepé lá pelos idos dos anos 80 e 90 chegou a ter um esboço de tratamento do lixo.

Durante o período das ondas de privatizações começaram a surgir as empresas terceirizadas que passaram a disputar licitações para assumir os serviços de coleta de lixo domiciliar. Em Santa Maria, aliás, criou-se uma das maiores empresas do Brasil, que chegou a assumir contratos em várias outras unidades da federação.

A par disso, como não poderia ser diferente, foram surgindo denúncias de toda ordem, sempre envolvendo fraudes e maracutaias. A mais famosa repercute até os dias de hoje e ninguém sabe ao certo o que é verdade e o que é mito – falo do caso Celso Daniel – o Prefeito do estado de São Paulo que teria sido assassinado em virtude de contratos dessa natureza.

O lixo, por aqui, tornou-se um daqueles problemas endêmicos do serviço público. Um desafio aos prefeitos.

Curiosamente em outros países o lixo tornou-se solução. Na China existem centenas de cidades que desenvolveram usinas de biogás e que geram energia a partir da transformação dos resíduos orgânicos em gás de metano. Tudo o que sobra é aproveitado, seja na reciclagem, seja em forma de adubo orgânico.

Mas talvez ninguém tenha sido mais competente do que uma empresa sueca que desenvolveu um sistema automático de coleta e que funciona com tubos subterrâneos acionados por ar comprimido. Barcelona está implantando todo o sistema com esses equipamentos suecos. Os novos edifícios só recebem alvará com a instalação prévia dos equipamentos para depósito do lixo. São como uma espécie de “terminais” bancários, onde as pessoas “depositam” o lixo e ele é automaticamente ‘SUGADO’ e levado pela tubulação até uma estação de tratamento.

Na Estação de Tratamento todo o material é separado, lavado, e o lixo orgânico transformado em gás e energia elétrica. Não é ficção – é realidade.

O lixo tornou-se, curiosamente um abismo, talvez o mesmo precipício cultural que separa os países desenvolvidos dos países de terceiro mundo. Nós por aqui, abordamos o tema com o enfoque da pereba e da corrupção, enquanto no primeiro mundo, o lixo representa modernidade, alta tecnologia e fonte de riquezas. É ou não é o abismo do lixo…