Fabian Lisboa

Sonhos
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O vento bate nas minhas folhas. Meus galhos mais fracos balançam, alguns quebram e caem, mas não me importo, por que sei que eles vão voltar a crescer, eles sempre voltam.

Lá no horizonte vejo a chuva chegando, o céu ficando escuro, raios e trovões fazendo sua dança. Eu gosto da chuva, toda a vez que ela chega sinto-me renovado e vivo. Apesar de ser uma árvore, tenho sentimentos, mas tenho principalmente sonhos.

No alto desse morro onde fico, posso ver o mundo, posso enxergar, ouvir e sentir tudo. Também posso ver uma casinha de madeira de onde sai uma pequena listra de fumaça de sua chaminé. Nela moram Julia e seus filhos, os gêmeos Adrian e Anna.

Julia é viúva, mulher admirável, apesar da sua pouca idade já sofreu bastante na vida. Mulher forte e corajosa cuida da fazenda e de seus filhos sozinha.

Falo que tenho sentimentos por que fico muito feliz quando vejo Adrian correndo em volta de mim com seus cabelos loiros e seu sorriso travesso, ou quando tenta subir nos meus galhos. Também tenho sonhos, neles corro atrás dele e o ajudo a subir na árvore.

Adoro ver Anna brincando no balanço que seu falecido pai colocou em um dos meus galhos. Imagino-me balançando ela bem alto e vendo em seus olhos a felicidade de se sentir a dona do mundo.

Queria muito abraçar Julia em todas as vezes que ela vem chorar embaixo da minha sombra. Às vezes sonho que pego na sua mão e falo que tudo vai ficar bem, que ela não está sozinha no mundo.

Vou ver todos eles partirem, só o que vai me restar são as lembranças. Vou continuar aqui nesse lugar até o fim dos meus dias, esperando a chuva chegar e depois ir embora, como todas as coisas nessa vida.