Estudantes da região contam como é a rotina de isolamento na Argentina

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Fotos: arquivo pessoal


 

Fotos: arquivo pessoal

 

Há pouco mais de uma semana, Luiggi, de 28 anos, e Giovanna, de 25 anos, filhos do prefeito de São Sepé, Léo Girardello (PP), convivem com as restrições impostas pelo governo argentino devido à pandemia do novo coronavírus. Os estudantes estão no país “hermano” para estudar medicina na Fundación Barceló, em Santo Tomé.

Até sexta-feira, o país registrava pelo menos 589 infecções confirmadas. Porém, segundo o relato dos jovens, as proibições e orientações são semelhantes às impostas no Brasil, que contabiliza um número bastante superior de casos da Covid-19.

“A faculdade cancelou as aulas e mantém atividades apenas a distância. As aulas, a princípio, estão suspensas até 6 de abril”, conta Luiggi.

Os jovens estão na Argentina há três anos. Depois do surto de infecções, os irmãos optaram por permanecer no país.

“É um ato de amor ficar. É claro que, neste momento de crise, gostaríamos de estar junto aos nossos familiares em São Sepé. No entanto, entendemos que não é recomendável viajar”, acrescenta o estudante.

Luiggi e Giovanna moram em uma espécie de kitnet e estão isolados, entregando atividades acadêmicas pela internet. Conforme ela, Santo Tomé não tem estrutura para realizar os testes em pessoas suspeitas. Quem apresenta os sintomas da doença é encaminhado para Corrientes, que fica a 390 quilômetros da cidade onde eles moram, para fazer o exame.

 

SAUDADE

Em São Sepé, Girardello lida com a saudade dos filhos em meio às difíceis decisões que, como chefe do Executivo, tem de tomar para combater a pandemia. De longe, ele procura manter o máximo de contato que pode, para dar carinho e afeto a Luiggi e Giovanna:

“Em nossas conversas, já não sei se são eles que nos acalmam ou se somos nós que os deixamos mais tranquilos. Se meus filhos voltarem agora, vão ter que ficar em quarentena e, com isso, podem perder o ano na faculdade. Por precaução, não poderiam retornar tão cedo.”

Giardello compreende que, neste momento em que tudo é incerto com relação à Covid-19, é melhor que os filhos permaneçam na Argentina.

“Mesmo com dor no coração, entendemos que é melhor eles ficarem lá. Ainda bem que os dois são maduros e têm estrutura emocional bem construída. A distância deixa uma sensação muito ruim na alma da gente”, desabafa o prefeito.

 

QUARENTENA

Presidente da Argentina, Alberto Fernández decretou quarentena total, em 20 de março, iniciando um dos isolamentos obrigatórios mais antecipados do mundo. A restrição deve ser estendida, pelo menos, até 13 de abril, segundo o jornal Clarín. Lá, só é permitido sair de casa para ir às farmácias, posto de combustíveis e comprar alimento.

“Os pequenos estabelecimentos que vendem comidas, nos entregam os produtos na porta, à distância. As ruas estão vazias”, comenta Giovanna.

Na última sexta-feira, a Argentina fechou todas as fronteiras. A partir de então, só podem entrar no país, argentinos que estavam comprovadamente voltando ao país nas 48 horas anteriores à publicação do decreto.

 

PUBLICITÁRIO FALA SOBRE ROTINA EM MERLO

O publicitário Rafael Guerra, de 35 anos, de Jaguari, está na Argentina desde o ano passado. Uma semana antes de o presidente decretar quarentena, ele foi viver em Merlo, uma cidade turística, típica do interior, com 13 mil habitantes. Lá, Guerra passou a fazer trabalho voluntário em um hostel, espécie de albergue com acomodações simples.

Guerra comenta que, logo ao chegar, presenciou vários hóspedes irem embora, um a um, com muita insegurança, diante das notícias relacionadas ao novo coronavírus.

“Restaram somente três hóspedes. Dois deles são alemães, de 20 e poucos anos, que, antes de chegarem aqui, passaram por Brasil, Uruguai e Buenos Aires”, relata Guerra.

O publicitário estava cozinhando para os dois, que ficaram alguns dias isolados em uma cabana, em quarentena. Segundo Guerra, as louças deles eram limpas com água sanitária e sabão em abundância:

“Autoridades de saúde e de segurança já estiveram no hotel para averiguar se havia hóspedes. Nessas ocasiões, eles recomendaram que os alemães ficassem em isolamento.”

Ainda de acordo com Guerra, o terceiro hóspede é um argentino que não pode voltar para Buenos Aires porque as linhas de ônibus foram cortadas.

“Na última vez em que estive na rua, ouvi uma voz, de uma janela, dizendo ‘vai para casa, vai para casa’. As autoridades realizam abordagens nas ruas. Na minha visão, a população está acatando as determinações do governo. Nas redes sociais, o presidente tem se mostrado uma figura presente e eficaz na luta contra o coronavírus”, finaliza o jaguariense.

 

 

Fonte: Diário de Santa Maria