‘Estamos no pior momento, uma calamidade mesmo após um ano de pandemia’, diz médica intensivista

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Foto: Renan Mattos (Diário)


 

Foto: Renan Mattos (Diário)

 

A vida de pessoas em estado grave por complicações por coronavírus e que têm na saúde pública de Santa Maria a única possibilidade para o tratamento da doença colocou pacientes e profissionais da saúde em uma situação dramática.

Quem necessitou de um leito de UTI Covid pelo SUS _ no Husm ou no Hospital Regional _ deparou com todas as vagas ocupadas. Na rede privada, a realidade também beirava ao esgotamento. Até o final da tarde de terça-feira, 2, apenas um leito de UTI para Covid estava disponível no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo, que é referência para atendimento da doença.

A cidade acompanha o caótico panorama da saúde do Estado, que também, se materializou em um número recorde e atingiu 100,1% de ocupação dos leitos de UTI conforme mostrou o painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde.

 

NO LIMITE

No Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), 97,1% dos leitos de UTI estavam em uso. Mas, entre os 20 leitos de UTI para Covid, todos permaneciam ocupados. Nos leitos Covid-19 fora de UTI do Husm, a ocupação estava em 25% (cinco dos 15 leitos com internações).

“Desde sexta, estamos recebendo pacientes de várias regiões, que vêm via sistema de regulação do Estado. Teve pessoas de Capão da Canoa, Imbé. Isso é preocupante porque esse trajeto longo feito entre regiões distantes pode piorar saúde do paciente, que chega em estado muito grave. Estamos no pior momento, uma calamidade que nos pegou mesmo após um ano de pandemia. As equipes estão esgotadas,tivemos de reprogramar nosso trabalho diante de uma nova onda, nos deparamos com uma faixa etária mais jovem, com comportamento da doença mais grave e prolongada”, relatou a médica intensivista e responsável pela UTI Covid do Husm, Luciana Segala.

Outro médico, também da rede pública e que não quis ter o nome divulgado descreveu um cenário de “guerra” e mencionou a dificuldade de lidar com os denominados pacientes zero (leito), com quadro clínico gravíssimo, encaminhados a qualquer momento sendo preciso “tentar salvar com as armas que se tem”.

 

ÚLTIMO PLANO EMERGENCIAL

Horas depois da esperada Central de UTIs do Husm abrir nas portas depois oito anos de espera e receber pacientes com Covid -19, um cenário desolador mexeu na rotina da instituição desde a última sexta-feira. É que o hospital passou a aderir último nível da fase 4 do Plano de Contingência Hospitalar, montado no início da pandemia pelo governo do Estado. Isso implica em viabilizar o máximo de espaços para atender casos de Covid.

Segundo o gerente-administrativo do Husm, João Batista de Vasconcellos, em poucas horas, os novos cinco leitos de UTI Covid estavam ocupados. Os outros 15 pacientes que já estavam internados foram transferidos para o novo espaço antes das13h de sexta.

Além disso, a antiga área onde estavam instalados os leitos de UTI Covid passou a ser ocupada também por pessoas com coronavírus, muitos, em estado grave:

“Trabalhamos com planejamento, mas a semana foi de adaptação, foi muito difícil. A coisa vai acontecendo e temos de adaptar. O Husm já tem como característica ser uma referência para região e vem muita gente, os outros serviços não param. Os pacientes da onco seguem fazendo quimioterapia, o pronto-socorro segue lotado, recebendo vítimas de acidente, com ferimentos graves. E o nosso plano era reformar aquele espaço onde estavam os 15 leitos de UTI Covid, mas, neste momento, abandonamos o projeto e estamos acomodando pacientes com coronavírus.”

Na tarde desta terça, a secretária da Saúde, Arita Bergmann, e o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), Maicon Lemos, fizeram um apelo em vídeo, publicado nas redes sociais do governo do Estado, para que toda a rede básica da saúde do Estado esteja disponível para atender os casos menos complexos de Covid-19, inclusive em horários estendidos e finais de semana, evitando, assim, sobrecarregar ainda mais as emergências e UPAS.

 

PLANO

Além da suspensão imediata das cirurgias eletivas (com exceção das cirurgias de urgência ou que representem risco para o paciente), deverão ser instalados leitos emergenciais em salas de recuperação e em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) intermediárias. Junto à ocupação dessas áreas a serem disponibilizadas, deverão também ser acionadas as equipes técnicas desses setores, especialmente as equipes médicas e de enfermagem.

 

 

Fonte: Diário de Santa Maria