E agora professores, quem poderá nos defender? – Adriana Aires

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A frase tão conhecida do episódio do famoso personagem Chapolin Colorado é o que ecoa dos corações e pensamentos de milhares de professores que a cada dia veem sua profissão ser invalidada por um sistema que há muito tempo massacra seus trabalhadores.

Ontem mais uma docente foi morta, covardemente, cruelmente por um aluno. Por amor à profissão ainda continuava no ofício mesmo estando aposentada. Estava por amor e, talvez, pelo fato de que os rendimentos, após décadas de dedicação, não ossem suficientes para ficar em casa e curtir o merecido descanso.

Vejo, a cada dia, pessoas dando “pitaco” na profissão, todo mundo tem uma fórmula mágica, aponta o dedo e sabe tudo que seria suficiente para que a educação desse um giro de 360°C, mas o mais engraçado de tudo isso é que a maioria destas pessoas não está nas salas de aula, com cargas horárias excessivas, ministrando aulas de conteúdos que não são de suas formações, porque a cada dia os governos criam estratégias para dizer que está havendo mudanças significativas.

Estas pessoas são as mesmas que gritam que os professores reclamam de “barriga cheia”, que se não gostam da profissão que procure outro cargo; são as mesmas que ontem indicavam que detectores de metal deveriam ser as próximas aquisições das escolas, sendo que muitas não têm o básico como produtos de higiene e merenda, realmente é perceber que quem mais aponta soluções para a educação é quem não entende muito a fundo sobre ela.

Sempre uso uma comparação com meus alunos, digo a eles que o nosso processo de ir para a sala de aula é como eles indo para uma balada para encontrar com os amores de suas vidas: preparamo-nos, vestimos a nossa melhor roupa que é a preparação do conteúdo e partimos para a conquista, que é cada aluno que encontramos pela frente. Muitas vezes esta conquista não dá certo, mas não significa que não tentamos fazer o nosso melhor. Há muitos desafios, principalmente na educação pública. Como disse Leandro Karnal, há muito mais gente ferida neste episódio, pois sempre que um dos nossos é atingido, todos ficamos um pouco doentes. Ao poder público só importa os números, pouco importando a forma como são atingidos estes índices.

Como iremos cobrar de estudantes valorização e respeito se a sociedade trata a educação e, principalmente os profissionais dela, com desprezo. Há tempos que as coisas estão perdendo seu controle, mas os mais interessados nisso, os educadores, muitas vezes nem são ouvidos.

Saúde mental deveria ser prioridade para toda comunidade escolar. Respeito pelas pessoas é lição que deveria vir desde o berço, estamos nas escolas para tratar de aprendizagem e não de casos de violência.

Sinto por Elisabeth, sinto por todos profissionais que em algum momento tiveram sua dignidade afetada por um sistema falho, que objetiva que sejamos máquinas e esquece que somos humanos.

Não podemos nos calar diante de tanto desrespeito e dor. Um país só irá para frente definitivamente quando houver a valorização da educação e cultura. Estamos diante de tantos avanços nas tecnologias, mas tão carentes de afeto e amor.

Os verdadeiros heróis deixam suas famílias e saem de suas casas com suas capas invisíveis tentando trazer alguma mudança para este país. Vamos olhar de forma mais humana para a educação, precisamos de conscientização.

Quem poderá nos defender? Quem irá resguardar esta profissão milenar e tão importante? Antes de atirar a primeira pedra, pare e pense!

Que não tenhamos mais casos como o de Beth para chorar, mas muitos motivos para acreditar e sorrir!!!

 

 

Adriana Aires

Professora e Jornalista