Dos desafios aos livros, a vida de Mauricio Souza, patrono da Feira do Livro em São Sepé

0
190


 

Quando falam em Maurício de Souza, todo mundo associa com a Turma da Mônica, os personagens mais famosos da literatura infantil brasileira. Mas São Sepé divide com o Brasil inteiro um talento que carrega o mesmo nome e sobrenome do gênio dos livros infantis. Maurício Souza, o escritor sepeense, será patrono da Feira do Livro 2021, que começará na próxima terça-feira, 16 de novembro.

 

TRAJETÓRIA E LUTA

Além do nome e do sobrenome, o mago das letras sepeense tem também paixão pela literatura e pela escrita. Maurício Souza é a prova de que a literatura e os números podem conviver de forma harmônica. Formado em física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o jovem transformou todas as letras das fórmulas de física em livros.

O gosto pela escrita veio ainda na faculdade, quando ele era vocalista da banda Apolo Rocky. A banda era um tributo ao AC/DC e fazia shows em Santa Maria e, também, em muitas cidades da região. Souza queria ir além de tributo a um grupo rock in roll, ele pretendia compor canções próprias. Porém, esse sonho nunca foi posto em prática.

Depois de se formar na UFSM, em 2012, Maurício chegou a cursar mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São Paulo, mas desistiu da pós-graduação por motivo pessoal.

Longe de casa e desmotivado na vida acadêmica e profissional, Maurício Souza encontrou no álcool o alívio imediato para depressão. “Comecei a beber para esquecer as frustrações do mestrado, a saudade de casa e isso quase destruiu a minha vida, me tornei alcoólatra, perdi uma namorada”, relata.

 

RELAÇÃO COM A FAMÍLIA E COM OS LIVROS

“Meus pais me deram a liberdade para eu fazer o que eu quisesse fazer”.

O alcoolismo e a depressão fizeram Maurício retornar para São Sepé, para o seio da família. “Quando eu falei que queria voltar, meus pais me incentivaram. Viajei 26 horas de São Paulo até Santa Maria”, lembra.

Em São Sepé, sem emprego e sem dinheiro, Maurício entrou em depressão profunda. Desmotivado, o escritor conta que em alguns momentos não tinha ânimo para levantar da cama. “Minha mãe foi a primeira pessoa que viu que tinha algo errado e me recomendou procurar ajuda. Além disso, ela me motivou a escrever, me dizendo para eu ler para passar um tempo. Então, eu peguei 100 anos de solidão do gênio Gabriel Garcia Marques”, cita com orgulho ao lembrar de um dos seus escritores favoritos.

Foi aí que começou uma outra semelhança de Maurício Souza, desta vez, com Machado de Assis, outro gênio da Literatura Brasileira. Maurício começou a escrever contos. Porém, modesto, ele relata que não é bom em contos, pois alega não dominar esse estilo de literatura.

Dos contos, uma história se tornou o primeiro livro, “Doce Sofia”. “Esse livro eu comecei a escrever em forma de conto, quando eu vi, já tinha 40 páginas, foi assim que virou livro”. A trama é uma história de adaptação e superação da personagem central, Sofia, que sofre um acidente e precisa aprender a viver e conviver com as limitações físicas que o trauma causou.

Sem perceber, o escritor estava narrando nas páginas de seu primeiro livro uma paródia da sua vida. Maurício precisou se readaptar e vencer barreiras. Deixou para trás os números e focou nos livros. Vencendo paradigmas particulares e limitações emocionais. Tal qual Sofia, Maurício da vida real aprendeu a enxergar o mundo com outros olhos e se permitiu viver e sentir mais.


 

SUCESSO, LIVROS, INSPIRAÇÕES E PANDEMIA

Depois do primeiro livro, Maurício escreveu mais dois livros. “Uma Receita Para Liberdade” é o livro mais famoso do escritor, reconhecido nacionalmente por youtubers famosos como Vitória Dozzo e também escritores renomados. Martha Medeiros, David Coimbra, Luis Fernando Veríssimo e Fabrício Carpinejar, que são referências para Maurício, conheceram o trabalho de Souza e viram o talento do jovem escritor.

A trama de um romance que envolve hospital psiquiátrico e cozinha fascinou os leitores, que se intrigaram com a riqueza do enredo. “Escrevi meus dois primeiros livros em um netbook (computador pequeno), precisava digitar tudo com os dedos indicadores, apenas”, recorda.

A popularização do livro rendeu parcerias. Maurício viajou para vários estados fazendo palestras e vendendo pela P.P eventos, “neste período cheguei a viajar nove cidades em uma semana, dormia em ônibus, a estrada foi meu quarto”, pondera, dizendo que a parceria se encerrou em 2019.

Já engajado no meio literário e vivendo de arte, o escritor precisou se reinventar na pandemia. Com tudo fechado, sem eventos literários, Maurício precisou mais uma vez se readaptar a realiade, como Sofia, personagem de seu primeiro livro. Souza trabalha atualmente em uma farmácia de São Sepé, gosta do trabalho e dos colegas, além da relação com seus clientes, afinal, pessoas o motivam.

Além do novo emprego, Maurício dedicou-se a alimentar sua página no Facebook, que atualmente conta com mais de 25 mil leituras por mês.

 

CENSURA

Depois do sucesso e profundidade de “Uma Receita Para Liberdade”, Maurício decidiu que era hora de escrever algo leve, já que estamos atravessando uma pandemia. Foi então que a comédia chamou a atenção dele. O livro “Um Palco é Pouco” foi escrito, porém foi censurado.

Embora a ditadura civil-militar tenha acabado em 1985 e o povo brasileiro viva, em tese, em liberdade plena, o livro foi censurado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) por conta de uma piada. A personagem faz um stand up comedy (show de comédia) e conta uma piada que não foi aprovada pela ABNT. “Eles queriam que eu retirasse todo o capítulo, retirei apenas a piada, estamos em um impasse, espero que eles revejam os conceitos”, argumenta.

 

FEIRA DO LIVRO

Maurício de Souza vai palestrar para todos os públicos da feira. “Pretendo falar sobre a importância de viver o hoje, de aproveitar todos os momentos, oportunidades, de falar, se expressar e não ter medo”, pontua.

Além das palestras, o escritor vai autografar seus livros e, claro, incentivar a leitura. “Os livros fazem parte do mundo, quero que eles façam parte do mundo de todas as pessoas. A leitura liberta a mente, o corpo. É alimento para o intelecto e para alma”.

 

GRATIDÃO

“Tenho gratidão por muita gente, nunca devemos esquecer aqueles nos ajudaram”

Assim como Machado de Assis, Maurício Souza não esquece das suas origens, a humildade e modéstia estão no mesmo patamar do talento do patrono da feira do livro, que não poupa carinho e gratidão a todos que incentivaram e ainda incentivam seu trabalho. Jack Spencer, Ana Alice Chiappta, Ana de Leon Brum e Rubia Cante, são os nomes que ajudaram Maurício a não desistir dos sonhos.

A feira do livro começa dia 16 de novembro e vai até dia 18 de novembro, em frente a Fundação Cultural Afif Simões Filho. O objetivo da feira é vender livros sem impostos e democratizar o acesso à leitura.