Alunos vão protestar após frase racista ser escrita em sala de aula da UFN

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Foto: reprodução

 

Alunos do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana (UFN) foram surpreendidos, por volta das 21h de segunda-feira, por uma frase de cunho racista escrita no quadro da sala 606 do prédio 14, que abriga os cursos da Comunicação Social. Este é o sexto ataque de cunho racista registrado nas duas maiores instituições de Ensino Superior de Santa Maria desde 2017. A reportagem é do Diário de Santa Maria.

Conforme um post feito no Facebook por um aluno da instituição, ele e um colega entraram na sala para pegar um celular que tinham deixado carregando. Ao chegar ao local, depararam com a frase: “Dalhe! Capitão. Preto no tronco!”

“Entrei na sala com meu colega e ele viu a frase no quadro. Ele me mostrou e chamou uma professora do curso. É difícil descrever o que senti. Fiquei sem reação na hora. Apesar de eu ter pensado na possibilidade de que a pessoa que escreveu agiu em tom de brincadeira, isso é inaceitável. Por isso, decidi fazer o post. Apesar de eu estar em uma instituição que tem poucos alunos negros, é difícil imaginar que um universitário possa fazer algo assim”, afirmou Matheus Mattos, aluno que fez o post.

 

Investigação

O ato de cunho racista gerou a manifestação de alunos e da própria instituição de Ensino Superior, que não questiona a veracidade da inscrição:

“Não questionamos a veracidade deste fato. Tratamos, sim, como um ato de violência em meio acadêmico, um debate que deveria ter ficado no século passado. A reitoria repudia veementemente este fato”, afirmou na manhã desta terça-feira o diretor da assessoria de comunicação da UFN, Carlos Spall.

Conforme a comunicação da UFN, uma comissão administrativa ligada à reitoria irá investigar o caso e buscar a autoria do ato. A legislação interna da UFN prevê advertência, suspensão e até expulsão de alunos em casos de comprovação de autoria.

 

Por volta das 10h desta terça-feira, a UFN divulgou uma nota oficial de repúdio ao ato em seu Facebook, veja na íntegra:

Em relação a uma postagem de cunho racista em rede social, produzida em ambiente acadêmico, a Reitoria da Universidade Franciscana, UFN, condena o ato, interpretando-o como violento e inaceitável, repudiando qualquer forma de discriminação na universidade.

A instituição possui entre os seus princípios, que a diversidade representa o maior valor de uma universidade e, por isso, não apoia manifestações que não promovam o diálogo e o conhecimento.

Conforme o Regimento Disciplinar da UFN, praticar atos discriminatórios que infrinjam o respeito à diversidade e às diferenças culturais é passível de punição, com advertência, repreensão, suspensão ou desligamento institucional.

Diante do acontecimento, a Reitoria irá investigar os fatos internamente e, na medida que o autor for identificado, conforme disposições legais, poderá ser encaminhado as autoridades competentes, conforme Lei nº 7.716, Art. 20, que dispõe a pena para quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Em relação ao ato mobilizatório, previsto para este dia 30 de outubro, a Reitoria apoia e entende a pauta como fundamental para o fortalecimento da capacidade crítica, reflexiva e dialógica em vista da superação de atitudes discriminatórias de qualquer natureza.

 

Protesto

Um protesto está agendado para hoje às 17h30min na frente do prédio 14 da UFN. Conforme uma das organizadoras, Luiza Rorato, alunos de vários cursos já confirmaram presença no ato por meio de um evento no Facebook. Até as 10h19min desta manhã, 194 pessoas haviam confirmado presença na rede social.

“Logo depois da postagem, nos reunimos e decidimos fazer um protesto. O nosso objetivo é cobrar uma punição e um posicionamento do curso e da reitoria da UFN. É inadmissível que isso aconteça. É algo que afeta a gente e queremos mostrar a nossa solidariedade com todos que sofrem isso” afirmou Luiza.

 

Seis ataques racistas desde 2017

Este não é o primeiro caso e frase de cunho racista registrado em instituições de Ensino Superior de Santa Maria. A maior instituição pública do interior do Estado registrou pelo menos 5 casos desde o ano passado. O mais recente ocorreu em um dos banheiros do Colégio Politécnico, na última sexta-feira. Uma frase de cunho racista foi inscrita na tampa interna de um vaso sanitário. Em função disso, o banheiro foi interditado na sexta.

Em todos os casos, o posicionamento da reitoria da UFSM é de repúdio aos atos e valorização da diversidade. Os casos estão sendo investigados pela Polícia Federal, que ainda não tem inquéritos concluídos.