Uma evolução crítica sobre a greve trabalhista – Igor Trindade de Souza

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Existem vários fatores que nos direcionam ao erro e, provavelmente o fato de algumas pessoas gozarem de possibilidades que proporcionam a busca do “poder-querer”, acabam construindo opiniões equivocadas e imaturas por determinados assuntos, o que é extremamente comum, pois ninguém nasce pronto.

Qualquer pessoa está sujeita a isto, porque temos uma inclinação de analisar o universo sendo o próprio ponto de referência, uma vez que, ao vermos uma pessoa dominar impecavelmente um assunto, concluímos que seja consequência de uma vocação ou no mínimo, adjetivamos ela como inteligente. Porém, quando fazemos isso, desconsideramos o esforço que aquele indivíduo teve em construir seu conhecimento, como férias de janeiro abdicadas a leituras, finais de semana de estudo ou qualquer outra maneira de sacrifício que a construção do conhecimento exige.


Por um determinado tempo – considerável – acreditei que a greve fosse uma consequência do comodismo, porque não compreendia a razão pelo qual as pessoas lutavam por melhorias da classe pertencente, ao invés de sair dela, procurar oportunidades melhores e até mesmo conciliar com outras atividades que sanassem o que estava faltando. Realmente, fui muito imaturo!

Clóvis de Barros Filho, em um de seus livros, comenta sobre a classificação que se dá a sociedade brasileira, comportando classes como elite, classe média e o povo. Conceituando a elite como conservadora e patrimonialista, a classe média como meritocrata e o povo como nada. Justificando isso, o autor diz que a elite é conservadora e patrimonialista, porque os membros desta classe compartilham a convicção de que possuem aquilo que é fundamental para uma vida feliz, ou seja, bens materiais que proporcionam um conforto existencial e, por isso adotam uma postura conservadora, para que não haja perda do que julgam ser fundamental para serem felizes, sendo assim, são patrimonialistas de modo que dependem diretamente do acumulo ou no mínimo, da conversão desses bens.

A classe média é meritocrata, porque os membros desta classe creem que o acúmulo de bens é a condição de felicidade que lhes falta, portanto acabam convencidos de que somente através do mérito, esforço, dedicação, trabalho duro e eficiência, acabarão conquistando aquilo que acreditam ser uma condição para uma vida feliz, isso por possuírem a capacidade de buscar melhorias, de modo que o querer fomentado por um certo sacrifício pode chegar ao poder, mesmo que isso não seja uma garantia de sucesso e consequentemente, felicidade. Por sua vez, o povo não seria nada pelo fato de não possuir nada para conversar e nem por usufruir de possibilidades subversivas dessa situação.Portanto, o povo fica à margem do sistema, tendo excluído o direito de conservar o que nunca terá e sem direito de sequer tentar subverter, porque não dispõe das condições básicas necessárias para a exibição do próprio mérito e consequentemente da conquista de seus “troféus”.


Nesse contexto, a greve é o único instrumento de luta por melhorias que essa classe dispõe, pois é na falta do trabalho, que se demostra o seu valor. O ator Pedro Cardoso, que interpretou Agostinho Carrara no seriado “A Grande Família”, fala sobre a dificuldade da valorização do trabalho em uma filmagem amadora que parece ser ironicamente realizada dentro de um taxi, que era o instrumento de trabalho do seu personagem no seriado. Na oportunidade ele diz que “no Brasil não se dá valor econômico ao trabalho, mas se dá valor econômico aos bens. Somos capazes de pagar 1 milhão de reais por um apartamento e, quando chamamos um homem para pintar o apartamento e ele nos cobra 5 mil reais, achamos um absurdo”. O ator complementa expondo a sua opinião, dizendo que “isso é o resultado da formação do nosso país que foi fundado pelo genocídio dos índios e pela escravidão, portanto um país que viveu por mais de 300 anos com mão de obra escrava, tem uma dificuldade cultural enorme de aceitar o valor do trabalho”.

A greve por determinados momentos se faz necessária, por ser o único meio de demonstrar o valor dos trabalhadores. Jamais criticarei a greve, desde que não se faça desse instrumento um modo de sobrevivência, identificando o exemplo dos professores, que muito são ouvidos em salas de aulas, mas pouco fora delas e, lutam por valorização sem depredar patrimônio público, particular ou sequer prejudicar alguém, apenas pausando suas atividades laborais e fazendo com que todos sintam a falta deles, sendo professores até mesmo para nos ensinar a lutar.

 

 

Igor Trindade de Souza

Estudante do 9º semestre de Direito da FAPAS