Ivan Cezar Ineu Chaves

Considerações sobre o medo
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Décadas de história e um acervo considerável de fatos, biografias, eventos, mudanças de rumo, transformações econômicas e tantas outras coisas registradas num município centenário. Mas é certo que São Sepé neste ano de 2015 está inscrevendo-se no mapa de uma das comunidades mais violentas do interior do estado. É uma novidade, aliás, uma lastimável novidade.

As gerações que nos antecederam ostentavam o orgulho da vida tranquila, do cotidiano de paz e amenidades – de uma vida pacata – da rotina das casas com portas e janelas abertas onde os únicos visitantes que entravam sem anuncio prévio eram o vento e os raios de sol. Hoje, ainda perplexa com o abandono das autoridades a população de São Sepé está em pânico. O medo tomou conta dos munícipes.

Há um provérbio da milenar cultura chinesa que diz que o “cão não ladra por valentia, mas sim por medo” e aqui nos pagos do Rio Grande inspirados pelo tradicionalismo costumamos repetir o velho dito de que “mais vale um covarde vivo que um valente morto”. Ou seja, o medo é um sentimento que desafia conceitos há muito tempo.

Há alguns dias deixei um comentário numa postagem de rede social onde fiz alusão ao medo e ponderei que esse sentimento – o medo – é mais perigoso que a valentia; o medo mata mais que a coragem. Esse comentário chamou muito a atenção das pessoas . Porque é um conceito bem simples, bem real, mas pouco perceptível.

O grande poeta e escritor alemão Gohete nos deixou um pensamento interessante e dizia ele que “a coragem depois da censura é como o sol depois do aguaceiro” . Ou seja , a coragem brota do medo e ele – o medo – é o motor capaz de impulsionar a reação de fúria antes imprevisível em uma pessoa de índole pacífica e tranquila.

Vale o mesmo para o coletivo. A comunidade, assim como as individualidades, reage da mesma forma. A ausência de resposta eficaz do Estado no combate à criminalidade está permitindo que se instale o pânico coletivo – o medo generalizado – e já começam a surgir os primeiros indicativos de que o coletivo está reagindo.

Essa reação tem diversas facetas e mais leve e altaneira é o protesto pacífico promovido pela própria cidadania. Mas existem outras manifestações nem tão altaneiras e nem um pouco pacíficas. Há poucos dias um bandido foi vítima de linchamento e foi internado com lesões graves. Poderia ter morrido. Talvez outros venham a morrer em circunstâncias análogas.

Tudo, por uma simples razão essencial – o medo – conceito antigo e definitivo, sobre o qual não adianta tergiversar. Ou o Estado garante segurança aos bons que são a enorme maioria e segrega a minoria ruim, ou a essa maioria boa reage por medo e a justiça que falha nas mãos do estado é promovida pela força popular. Não há nenhuma novidade…