Cria da Maré – Igor Trindade de Souza

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Um acontecimento atípico da realidade brasileira acabou impactando o país, a execução da vereadora Marielle Franco ou “cria da Maré”, como gostava de ser chamada por ter nascido no Complexo da Maré, na cidade do Rio de Janeiro.

Cria da Maré teve uma vida difícil, assim como qualquer outro brasileiro que não se rende ao sistema corrupto e criminoso, dando início precocemente a sua trajetória de trabalho (aos 11 anos). Posteriormente, chegou a trabalhar como educadora infantil. Matriculou-se em uma turma de pré-vestibular comunitário oferecido no Complexo, resultando no ingresso à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), cursando Ciências Sociais pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) e logo após, um mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde defendeu a dissertação intitulada “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro” e deu sequência à luta pelos direitos humanos. Foi eleita vereadora do Rio de Janeiro na eleição municipal de 2016, sendo a quinta parlamentar mais votada, vindo a exercer a presidência da Comissão da Mulher.

A repercussão dada ao caso gerou intensas críticas, por ser comparada a casos semelhantes sem o envolvimento de figuras públicas no polo passivo, comparações essas, que foram direcionadas principalmente a morte de policiais militares que heroicamente lutam contra o crime organizado do Rio e perdem suas vidas diariamente, mas mesmo que seja doloroso ver um herói fardado tombar, sabe-se desse cruel ônus que a profissão exige, sendo por esse motivo exercida por pessoas que obtém a capacidade de colocar-se em segundo plano, pois quem trabalha na segurança pública, doa-se pela paz social.

Essa comparação, embora inicialmente pareça lógica, é equivocada. Basta analisarmos o motivo e as circunstâncias de cada fato, pois os policiais cumprem suas missões cientes de que a qualquer momento poderá haver um confronto e justamente por isso estão preparados técnica e estruturalmente, tanta é, que combater o crime sem presumir confronto é tolice. Por outro lado, a execução da vereadora eleita democraticamente, foi motivada pelas exclusivas causas que defendeu assiduamente, fazendo com que suas ideias fossem ecoadas em plenário, que sem analise o mérito, devem ser respeitadas pelo simples fato de sermos livres para ser e pensar o que quiser, desde que isso não prejudique o convívio social ou qualquer outro bem jurídico tutelado pelo Estado.

Porém, os discursos de ódio e tentativas claras de denegrir a imagem pessoal e profissional da vereadora é preocupante, pois como diria o político e poeta romano Cicero “como tiveres semeado, assim hás de colher”, com isso sabemos que a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória. Semear o ódio é atitude de pessoas intolerantes, pois essa resolva se origina da não aceitação de fatores que não estão ao alcance delas ou simplesmente por não aceitar as pessoas como elas são, como uma vereadora de origem humilde incansável por sua luta.

Portanto, que não nos falte força para acreditar que um dia possamos ter uma sociedade com maturidade suficiente para que as pessoas parem de tentar mudar os outros e concentrem-se em si mesmas, pois como diria o General Willam Sherman “somente aqueles que nunca deram um tiro, nem ouviram os gritos e os gemidos dos feridos, é que clamam por sangue, vingança e mais desolação. A guerra é um inferno”.

 

 

Igor Trindade de Souza

Estudante do 10º semestre de Direito da FAPAS