Time de São Sepé denuncia caso de racismo em jogo pelo Gauchão Série Prata

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O que era para ser uma partida válida pela oitava rodada do Gauchão Série Prata de Futsal, em Lavras do Sul, terminou com apenas 12 minutos após uma confusão generalizada e uma denúncia de racismo no sábado, 30. O La Máquina, time de São Sepé, alega que torcedores do time da casa, o Independente, se referiram à equipe visitante como “macacada”. O boletim de ocorrência foi registrado nesta terça-feira, 2, e o clube mandante nega que tenha havido racismo.

“Agressão covarde e ato racista no jogo em Lavras do Sul. Alguns integrantes da torcida deles imitaram um macaco e ofenderam com gritos de bugio jogadores da nossa equipe”, publicou o La Máquina nas redes sociais.

Em súmula, o árbitro Marcelo Machado Lemos confirmou a versão do clube de São Sepé:

“Antes do início do jogo, a torcida organizada do Independente estava cantando as seguintes palavras: ‘Arerê, a macacada vai jogar a Série C’. Depois, quando as equipes estavam perfiladas para adentrar à quadra de jogo, o canto da torcida mudou para: ‘Arerê, o La Máquina vai jogar a Série C'”.

Ainda no documento oficial da partida, o árbitro relata que o jogo teve de ser suspenso por “perceber que não havia condições de segurança para o prosseguimento da partida”. Isso porque houve uma briga envolvendo os jogadores e membros da equipe La Máquina com torcedores e seguranças do Independente.

O técnico da equipe de São Sepé, Humberto Pires Stoduto, diz que a confusão teve início após a expulsão do massagista do La Máquina e que foi agredido por torcedores do time rival. Porém, defende que o mais grave foi o caso de racismo e pede a exclusão do adversário da competição.

“A confusão lá foi demais. Às vezes tem confusão de jogo, é normal. Mas eles estavam ganhando no primeiro tempo por 6 a 0, o jogo estava tranquilo, sem pontapé. Antes da partida, a torcida deles começou a chamar o nosso time de “macacada”. O árbitro chamou atenção deles, até pararam, mas depois deu a confusão toda e aí eles nos chamaram de macacos, bugio, macacada de São Sepé. Do jeito que foi, tem de haver uma punição grande. Se não tiver, vai virar anarquia”, afirma o treinador.

Stoduto comanda a equipe desde 2016 e garante nunca ter vivenciado algo assim no futsal. Segundo ele, foi entregue um recurso à Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS) e foi feito, na manhã de terça-feira, 2, um boletim de ocorrência na Polícia Civil.

“Minha ideia não é questionar ponto. Mas esse é um caso grave. Disse para o presidente (da FGFS) que ele teria a chance de dar o exemplo. Fizemos os devidos registros e agora a Justiça Desportiva que vai analisar tudo. Me chamou atenção porque no time deles, assim como no nosso, tinha vários atletas negros. Isso não pode acontecer”, reiterou Humberto Pires Stoduto.

O presidente da FGFS, Ivan dos Santos, disse que irá se reunir com a procuradoria do Justiça Desportiva do Rio Grande do Sul (TJD-RS) nesta terça-feira para entregar as denúncias. Segundo ele, é um processo feito semanalmente, em que as súmulas dos jogos são analisadas, e os casos com maior gravidade, encaminhados à Procuradoria.

“A torcida ficar fazendo gestos de macaco, essas coisas, é a primeira vez. Nunca tivemos caso assim, só relatos de injúria racial de um atleta para outro. Agora, estamos tomando as mediadas cabíveis. Esse caso vai, tranquilamente, ser apontado o clube, podendo ter uma pena bem grave. Acredito que possa ocasionar a suspensão da competição Série Prata”, ressalta Ivan dos Santos.

Em relação à investigação policial, o caso ainda nem começou a ser apurado. Isso porque o registro foi feito apenas nesta terça, na delegacia de São Sepé. A delegada Carla de Almeida explicou à GZH que, como o crime teria sido consumado em Lavras do Sul, o caso é encaminhado para a polícia da cidade.

“Sou obrigada a encaminhar para Lavras do Sul. Até porque eles têm mais condições de produzir as provas, porque, em princípio, a torcida organizada do clube de lá que praticou o crime. No registro da ocorrência, o relato foi de que eles cantaram músicas fazendo referências a denominação racistas, como macaco. Então, como esse registro é enviado fisicamente, por malote, acredito que chegará lá no final da semana”, explicou a delegada.

O advogado Savio Silveira, que representa a Sociedade Esportiva Independente, afirma que não houve racismo e que o clube ainda não foi notificado.

“Já anexamos e enviamos para a federação os vídeos com áudio que mostram que ninguém fala em macaco. A torcida grita o nome do time de lá. O que dá para ouvir é “o La Máquina vai jogar a Série C”. Em momento nenhum se falou em macaco. Estava acompanhando pela transmissão. Eles podem ter entendido errado, porque tem uma certa semelhança com o nome”, defende o advogado.

 

 

Reportagem: Luã Hernandez/GZH