A grande renúncia – Francisco Melgareco

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Nove a cada dez pessoas são demitidas por fatores comportamentais. Estudos recentes, como o feito pela consultoria “Page Personnel”, mostram que nos últimos anos, os fatores emocionais passaram a ser ainda mais determinantes no sucesso de uma empresa ou de um empreendimento. Nossa relação com o trabalho mudou completamente, especialmente pela influência da pandemia. O crescimento acelerado da rotatividade, mostra que as empresas precisam investir cada vez mais em seu principal capital social: as pessoas.

A grande resignação, ou “grande renúncia”, movimento que aconteceu recentemente, em especial nos Estados Unidos, antecipou o que passaria a acontecer de forma global. O padrão antigo de carreira e de estabilidade no emprego em uma mesma empresa passou a ruir, as pessoas passaram a priorizar a estabilidade emocional, bem-estar e satisfação no trabalho. Seguindo a tendência de “mundo líquido”, descrito por Bauman, o emprego formal e tradicional deixou de ser a meta principal de profissionais das mais diversas áreas, que passaram a buscar novas oportunidades e a desenvolver novas habilidades, tornando o emprego tradicional, de certa forma, descartável.

A pandemia mostrou ao mundo, ainda que de forma dolorosa, que existem diversas formas de trabalho ainda inexploradas e valiosas. O trabalho remoto, a utilização da tecnologia, a valorização de habilidades antes não consideradas, o poder da criatividade e capacidade de adaptação revolucionaram o mercado de trabalho. Outro fator decisivo trazido pela pandemia, foi o psicológico, ligado à carga mental e emocional que invadiu o interior das pessoas, trazendo medos e insegurança. Pode-se destacar aqui, que a forma como as empresas trataram seus funcionários durante a pandemia, foi fator determinante para gerar maior engajamento, ou então a desconexão total de comprometimento dos trabalhadores.

Diante deste cenário, a modernização da gestão, implementação dos novos princípios de liderança e valorização das pessoas, tornam-se fatores vitais para qualquer tipo de negócio. Ao mesmo tempo, os profissionais que não buscarem desenvolver as novas habilidades e ferramentas necessárias neste “novo mundo”, como comunicação, criatividade, iniciativa e protagonismo, estão fadados a perderem totalmente seu espaço. Mais do que competências técnicas, o essencial para um profissional de sucesso passa a ser sua gestão emocional. Na era da ansiedade, saúde mental e consistência comportamental são diferenciais competitivos valiosos.

É necessário refletir com autocrítica e humildade. Empresas precisam cada vez mais buscar propósitos maiores do que simplesmente o lucro, profissionais de todas as áreas precisam se reinventar e buscar capacitação profissional e mental. Mão de obra qualificada, líderes bem treinados e atualizados, propósito e humanização. Fórmula que pode transformar qualquer simples organização em potência.

Engajamento e retenção de talentos, dois grandes desafios que definem o sucesso de empresas e empreendedores. Só se alcança tais feitos com investimento em desenvolvimento de pessoas. Quando se entende que as empresas crescem mais quando as pessoas crescem junto, quando se valoriza mais o lado humano e individual de cada profissional, é possível tirar o melhor de cada um. Uma relação que precisa ser “ganha-ganha”, uma equipe, um time vencedor se faz com protagonismo, pertencimento e participação efetiva das pessoas nas decisões. O trabalho precisa ter sentido, fazer parte do ser, pois algo que nos completa será sempre essencial, e não mais renunciado.

 

Texto: Francisco Melgareco