Saúde Feminina: Mamografia deve ser anual após os 40 anos, reforça estudo.

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No Brasil, sociedades médicas já recomendam exame todo ano para mulheres dessa faixa etária

03/10/2024 | 16:56Agência Einstein

  • Ministério da Saúde preconiza rastreamento bianual somente a partir dos 50, mas pesquisas apontam a necessidade de exames de prevenção antes deste período | Foto: Pexels

Mulheres que fazem mamografia anualmente têm menor probabilidade de descobrir um câncer de mama em estágio avançado do que aquelas que fazem o rastreamento a cada dois anos ou com menor frequência. A constatação é de uma pesquisa da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, publicada em agosto no Journal of Clinical Oncology.

Para chegar à conclusão, os pesquisadores avaliaram as informações de 8.145 pacientes diagnosticadas com câncer de mama entre 2004 e 2019. O intervalo de rastreamento foi considerado anual quando o exame aconteceu em um período menor do que 15 meses; bienal se ocorreu entre 15 e 27 meses; ou intermitente se foi feito após 27 meses.

Entre as que faziam o exame anualmente, 9% descobriram a doença em estágio avançado; nas que passavam pelo teste a cada dois anos, esse índice foi de 14%; e no grupo das intermitentes, 19%. A tendência se manteve independentemente de idade, raça e da menopausa.

Segundo os autores comentam no artigo, esses resultados mostram a vantagem do rastreamento anual para o diagnóstico precoce e aumento da sobrevida. O câncer de mama é o segundo tipo mais comum entre as mulheres, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) projeta quase 74 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025.

Quando descoberto em estágio inicial, as chances de cura do câncer de mama podem chegar a 95%. E a mamografia e o ultrassom desempenham um papel essencial nisso. Para se ter ideia, estudos indicam que a mamografia pode contribuir para a redução da mortalidade por câncer de mama em até 40%.

“Como em qualquer câncer, quanto mais precoce o diagnóstico, maior a chance de cura. Muitas vezes, a mamografia permite fazer o diagnóstico antes de o tumor se tornar invasivo, por exemplo. Nesses casos, as chances de cura chegam a 99,5%.

Isso certamente contrasta muito com a sobrevida de cerca de 60% a 70% dos casos de diagnósticos em estágios mais avançados”, afirma a mastologista Danielle Martin Matsumoto, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Divergências para início do rastreio

No entanto, embora existam mais estudos demonstrando os benefícios do rastreamento mamográfico para câncer de mama, as diretrizes recomendando com que idade e com qual frequência as mulheres devem fazer esse exame são conflitantes.

Nos Estados Unidos, o American College of Radiology, a American Cancer Society e outras organizações recomendam a realização de mamografias anuais após os 40 anos. Já a U.S. Preventive Services Task Force — grupo de especialistas que analisa evidências científicas em medicina preventiva e discute novas recomendações — orienta que os exames sejam bianuais a partir dos 40 anos.

No Brasil, a situação é ainda mais divergente: o Inca, vinculado ao Ministério da Saúde, preconiza que o rastreamento do câncer de mama por meio da mamografia ocorra somente a cada dois anos, em mulheres de 50 a 69 anos.

Porém, a Sociedade Brasileira de Mastologia, o Colégio Brasileiro de Radiologia e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) seguem o protocolo da American Cancer Society e recomendam mamografia anual a partir dos 40 anos.

Os autores do novo estudo apontam que cerca de 65% das mulheres com mais de 40 anos são rastreadas para câncer de mama nos EUA, e apenas cerca de metade delas faz o exame uma vez ao ano. Isso se deve, em parte, às diretrizes conflitantes sobre os intervalos de rastreamento recomendados.

Segundo Matsumoto, no Brasil os números devem ser ainda menores, especialmente considerando mulheres que usam a rede pública de saúde. “No sistema público raramente vemos mulheres na faixa dos 40 anos com diagnóstico feito por exame de rastreamento.

Na maioria das vezes, ele acontece por queixa da paciente, que consegue palpar o próprio tumor e vai buscar ajuda. Na saúde suplementar isso é um pouco mais tranquilo e a falta de realização do exame nessa idade está mais associada à ausência da rotina da paciente”, pondera.

Em geral, o câncer de mama tem crescimento de lento a moderado, por isso a mamografia é capaz de identificá-lo no início. “Ainda assim, dentro dos cânceres de mama, existem alguns tipos de crescimento mais acelerado, são mais agressivos e, muitas vezes, vão acontecer no intervalo entre os rastreamentos. Por isso é tão importante que a mamografia seja realizada anualmente”, comenta a mastologista do Einstein.