Valdiocir Bolzan

Os casamentos de outros tempos
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Os casamentos realizados antigamente em São Sepé eram bem diferentes em comparação aos atuais. Não tinham músicas sociais nas igrejas para impressionar os assistentes.

O cerimonial era bastante simples e não havia ostentação, muito embora os noivos fossem de famílias pobres ou ricas. Os antigos, impacientes, como era natural, faziam uma narrativa mais pesada dos casamentos dos tempos de antanho em comparação com os atuais. Os moços julgavam que era exagero de expressão dos velhos, ou talvez o resultado da prematura caducidade deles, julgavam que uma pessoa com 50 anos já era uma idade bastante avançada. Diziam também que não era possível haver tanto atrasamento naquela época. Os casamentos eram feitos de acordo com a lei, com a mesma cerimônia dos atuais, sem demasiadas exibições.

Os casamentos na maioria eram realizados na Intendência Municipal e outros eram em casa dos pais da noiva.

Quando eram feitos na Intendência, os noivos eram acompanhados pelas testemunhas e convidados, que eram muitos, iam todos a pé.

O noivo, um dia antes do casamento, ia à noite na casa dos pais da noiva e depois de conversarem um pouco se despedia de todos os familiares e só se encontravam no dia seguinte por ocasião da cerimônia do casamento.

A noiva passava o dia inteiro encerrada no quarto chorando constantemente, se lembrando qual seria seu futuro nesse passo que iria dar e que em breve iria deixar os seus pais, irmãos e o seu velho solar, onde passara a infância feliz e descuidada. Quando o casamento era feito em casa, a noiva vinha em prantos para a sala, cercada pelos padrinhos.

Quando o juíz depois de diversas perguntas que fazia aos noivos, declarava-es legitimamente casados e a banda de música que estava presente em prontidão, rompia em um ensurdecedor dobrado e nesse momento todos abraçavam os noivos e os da família e choravam copiosamente.

Levavam a noiva até os fundos da casa para ela ser felicitada pelos criados, os quais, nessa hora, também estavam em desespero, as lamentando, desde já, pela saída da boa “sinhazinha”, que ia deixar para sempre aquela casa onde nasceu e se criou. Somado isso, começava o banquete que durava algumas horas devido ao grande número de convidados. Nessas ocasiões se ouviam diversos oradores que felicitavam os noivos recém casados. Essa festa, na maioria das vezes, se prolongava até altas horas da madrugada com um baile bastante animado e muitas vezes encerrava até o dia clarear com o mesmo número de gente entre parentes e amigos. Quando o casamento era realizado na campanha, a festa durava três dias. Assim eram os casamentos daqueles tempos em São Sepé.

 

Nota do colunista

CASAMENTO CIGANO

Na década de 1950 os ciganos acampavam nas proximidades da minha casa, ou seja, especificamente na Rua 7 de Setembro, vizinhando com Vitor Souza (Seu Vitinho), hoje propriedade de Luiz Carlos Teixeira, Ramiro Figueiredo (pai do Afonso Bigode) hoje onde residem Darcy e Terezinha Garcia e Ivone Garcia, pais e avó de Bruno Garcia, editor do portal de notícias O Sepeense. O local ideal para o acampamento foi onde é a propriedade de Afonso Rodrigo Martins (Neto Loterias). Próximo a este local havia uma lagoa e, ao redor dela, um acampamento. Dessa lagoa nascia uma sanga que ia em direção à Rua Riachuelo desaguando no Lageado do Moinho. Hoje está canalizada e foi objeto de obras recentes realizadas na Rua Riachuelo em virtude do rompimento dos tubos condutores de água.

Após as explicações sobre o local do acampamento dos ciganos vamos ao assunto principal desta matéria que é o casamento cigano.

A festa alusiva ao casamento durava aproximadamente uma semana, e era de muito luxo, barracas bem arrumadas e animada com muita música própria deles.

A carne preferida deles era de porco que era assado inteiro em roletes que giravam duas forquilhas de madeira. Haviam outras variedades de comida características deles.

Vinham outros ciganos de cidades vizinhas compartilhar da festa a qual era muito animada.

Os guris da época, eu, o Carlos Castro, o Ibanez Vargas (já falecido), o Neto Martins o Aureci (irmão do Neto), o Berilo Brum, o Rogério Vargas e outros presenciávamos com admiração estes acontecimentos sociais dos ciganos.

Quando iam embora e devido a amizade conquistada com os vizinhos, davam de presente aos mesmos panelas, tachos e outros utensílios domésticos.

A renda deles era proveniente da venda de tachos, baterias (eram muito vendidas no interior para fins de iluminação e eram carregadas através de cata-ventos).

Para complemento da renda, as ciganas tiravam “a sorte”, como era chamada na época.

Resta-nos recordações daquelas belas festas nupciais de outrora em nossa querida São Sepé, fatos que dificilmente presenciaremos.