Vai e vem: horas após confirmação de causa do surto de toxoplasmose, Ministério da Saúde pondera afirmação

0
43


 

Após o Ministro de Saúde Gilberto Occhi pegar as autoridades de Santa Maria de surpresa ao afirmar a origem do surto de toxoplasmose na cidade na manhã desta quinta-feira durante uma entrevista à Rádio Gaúcha, o Ministério da Saúde voltou atrás e divulgou uma nota oficial informando que a causa ainda está sendo investigada. A reportagem é do Diário de Santa Maria.

Segundo a pasta, as investigações apontam a água como uma possível fonte de infecção, mas não se tem confirmação.

 

Veja a nota oficial na íntegra:

“O Ministério da Saúde em conjunto com o governo do Estado e do município investigam a fonte de transmissão do surto de toxoplasmose que ocorreu no município de Santa Maria (RS). Na investigação do caso feita por meio de entrevista com a população, uma das conclusões é a possível fonte de infecção pela água. Já foram descartadas outras origens, como consumo de carne suína, frango, carne bovina e frutas. Outros fatores permanecem em análise.

O Ministério da Saúde informa que tem auxiliado o estado do Rio Grande do Sul e Santa Maria na investigação dos casos, mantendo equipe do EpiSUS no município desde o dia 26 de abril. Os técnicos deixaram o município nesta semana para analisar os dados colhidos na região.

 

CASOS

Até o dia 18 de junho, foram confirmados, laboratorialmente, pelo Ministério da Saúde, 90 casos de toxoplasmose com indício de infecção recente. Nestes casos, o exame leva em consideração o período de infecção que deu positivo. Ou seja, é possível saber se a transmissão ocorreu neste surto atual, com a mesma fonte de infecção provável.

Na literatura mundial, a prevalência da toxoplasmose pode ter sorologia positiva em até 50% da população e, por ter a forma crônica da doença, o resultado pode continuar dando positivo por anos após a infecção. Por isso é necessário diferenciar os casos recentes, para que a investigação epidemiológica do surto seja precisa. No entanto, cabe ressaltar que todos os casos estão sendo devidamente investigados e tratados.

O principal objetivo de qualquer investigação de um surto é dar o atendimento necessário às pessoas que, possivelmente ou potencialmente, estão doentes. Para isso, é necessário diagnóstico médico e, muitas vezes, exame laboratorial. Nos casos das confirmações pelo Rio Grande do Sul, os critérios adotados definiram as pessoas que estão passíveis de receber a assistência devida.

Já para fins de investigação de um surto, existe um outro objetivo. Além de identificar as pessoas doentes, o Ministério da Saúde tem que identificar qual a fonte de infecção para checar se há algum risco de repetição. Para isso, é preciso ter certeza de que esses casos estão associados a um período determinado de tempo. Por isso, o critério mais específico e a diferença de números.

Cabe esclarecer que o fato da investigação do Ministério da Saúde chegar a 90 casos, não significa que outras pessoas não serão assistidas. Todos que receberem um diagnóstico clínico de que é passível de tratamento, de indicação de um acompanhamento médico, serão acompanhadas.

 

AÇÕES

Uma equipe do Ministério da Saúde esteve em campo no município de Santa Maria (RS) desde o dia 26 de abril, quando houve pelo estado e município para auxílio nas investigações de um surto de toxoplasmose. As investigações foram feitas sob coordenação da Secretaria de Estado de Saúde do Rio Grande do Sul. Os técnicos da pasta deixam a cidade nesta segunda-feira, 18, para continuar a investigação dos dados coletados, em Brasília.

Cabe ressaltar que o Ministério da Saúde monitora a investigação junto à Vigilância Epidemiológica municipal e estadual e junto ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) da SES/RS. Além do monitoramento, o Ministério da Saúde realizou algumas ações, como: orientações técnicas para notificação; orientações sobre o diagnóstico e tratamento da doença; disponibilização de contato permanente com médicos especialistas na doença; emissão de nota informativa com orientações para apoiar a investigação de surto; disponibilização de laboratórios colaboradores para a realização de exames; envio de especialistas na doença para discussão presencial no município; realização de vídeo e web conferências; aquisição de insumos para a realização de análises laboratoriais, além do envio de profissionais de saúde para apoiar a investigação de campo e identificação das possíveis fontes de infecção.”

Em coletiva na última segunda-feira, após os técnicos terem deixado o município com os dados coletados, Renato Alves, coordenador-geral de doenças transmissíveis do Ministério da Saúde, afirmou que não ainda não era possível falar sobre a causa do surto durante uma entrevista coletiva.

 

Afirmação foi irresponsável, afirma prefeito

Menos de duas horas depois que ministro da Saúde, Gilberto Occhi, afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha, ao programa Atualidade, que a origem do surto da toxoplasmose é a água, o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, afirmou em entrevista coletiva em seu gabinete que é uma irresponsabilidade a atitude do ministro.

“O maior erro foi sonegar essa informação à população. O ministro terá de vir aqui em Santa Maria explicar de onde ele tirou essa informação”, afirmou o prefeito Jorge Pozzobom, durante a entrevista ao lado da secretária de Saúde, Liliane Mello, e da procuradora da prefeitura, Rossana Boeira.

 

A água nunca foi descartada

O Diário conversou agora pela manhã com uma das médicas infectologistas mais respeitadas de Santa Maria e que está envolvida nas ações de prevenção e tratamento da doença na cidade.

“A hipótese dos médicos sempre foi que era a água. No começo do ano, tivemos grandes obras de saneamento na Região Oeste de Santa Maria, uma das que concentra o maior número de casos. É só somar 1+1. Esta descoberta não é uma surpresa, mas agora que temos a confirmação da fonte, acredito que o Ministério da Saúde tem de tomar pé da situação e se envolver. Não adianta o ministro apenas confirmar a fonte, tem de assumir o problema”, afirmou a infectologista Jane Costa.

 

OS PRINCIPAIS CUIDADOS

Tomar água mineral ou fervida por pelo menos 1 minuto

Não coma alimentos crus, frutas e vegetais produzidos no solo por jardinagem

Descascar frutas antes de comer

Não coma carnes cruas ou malcozidas, incluindo quibe cru e embutidos (linguiça, salame, copa e outros)

Congelar a carne a -12°C por 24 horas

Lavar as mãos com água corrente e sabão ou detergente antes e depois de manipular alimentos

Não consumir leite e seus derivados crus, não pasteurizados

Evitar manuseio direto com solo, incluindo jardins, parques. Caso seja necessário, usar luvas e lavar bem as mãos após a atividade

Após manusear carne crua, lavar bem as mãos e toda a superfície que entrou em contato com o alimento, inclusive os utensílios utilizados

Evitar o contato direto com fezes de gato

A caixa de areia de gatos deve ser limpa preferencialmente por outra pessoa, todavia se não possível, deve-se limpá-la e trocá-la diariamente, utilizando luvas e pá de lixo

Alimentar os gatos com carne cozida ou ração, não permitindo que os mesmos façam a ingestão de animais caçados

 

 

Fonte: Diário de Santa Maria