Use sem moderação! – Elaine dos Santos

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Nesses tempos de extrema intolerância, como professora de língua portuguesa, eu estou convencida que as pessoas precisam, com muita urgência, retomar o hábito de leitura e, “de lambuja”, aprenderem a interpretar o que é escrito, especialmente, em redes sociais.

Se a minha memória não me trai, as pesquisas sobre analfabetismo funcional – pessoas que juntam letras, mas não decodificam ideias expressas por essas palavras – remontam ainda aos anos 90. De lá para cá, com a adesão maciça das diferentes camadas sociais [letrados e iletrados] à internet e às redes sociais, o caso parece ter se agravado. Há um “card” frequentemente compartilhado sobre um sujeito que avisa que venderá bolo de cenoura no dia seguinte, num determinado horário e que cada fatia custará certo valor. Em seguida, aparecem perguntas sobre o “sabor” do bolo, o valor que será cobrado pela fatia, qual o horário de venda etc. Há uma inominável incapacidade inicial para prestar atenção às informações e, na sequência, uma atroz dificuldade para compreender as palavras.

Por vezes, lendo certos comentários (e eu adoro fazer isso!) em redes sociais, eu sinto a vontade de pegar o carro e ir até a casa da pessoa, com um dicionário Houaiss na mão. Jogar-lhe o dicionário sobre a cabeça. Deixá-la torta, quem sabe, com o susto, ela aprenda!!! Ninguém precisa ter um dicionário Houaiss em casa, há inúmeros dicionários “on line”, basta ter vontade, interesse para aprender. Não entendeu uma palavra, abra o conhecido “site” de pesquisa, digite a palavra acompanhada por “significado” e procure os diferentes sinônimos, os mais variados conceitos possíveis para um mesmo termo. É simples e evita dissabores.

Nem todas as pessoas têm a mesma variedade vocabular. Em geral, usamos cerca de 1.000 palavras da língua portuguesa, no entanto, algumas pessoas “manuseiam”, com extrema facilidade, mais de 4.000 palavras dessa mesma língua portuguesa, é preciso compreender que a nossa limitação não pode cercear o mundo, a existência das demais pessoas. Não podemos olhar o mundo por uma báscula de banheiro se podemos vê-lo do alto de uma montanha.

Aceite desenvolver o raciocínio, faça uso dele, exercite os neurônios. Assista a filmes instigantes – ainda que seja muito antigo, um dos filmes que me parece perfeito para isso é “O nome da rosa”, de Umberto Eco, uma elaborada trama policial na Idade Média. Não tem “paciência” para ler uma grande obra da literatura, assista ao filme “Troia”, ele é uma versão bem compilada da epopeia “Ilíada”, de Homero, escrita na Grécia Antiga. Arrisque, quem sabe, um romance como “A moreninha”, de Joaquim Manoel de Macedo. Ah, importantíssimo: faça palavras cruzadas. Os nossos neurônios são sensíveis “ao mofo”, se não exercitados, eles involuem. Assim como os músculos dos braços, das pernas, do abdômen necessitam de exercícios físicos, os neurônios também precisam de atividades. Use e abuse do raciocínio lógico, da reflexão – na pior das hipóteses, segundo os médicos, pode-se retardar o aparecimento de doenças degenerativas como Alzheimer.

 

 

Professora Elaine dos Santos

Doutora em Letras

Contato: e.kilian@gmail.com