Pessoas com deficiência em São Sepé relatam dificuldades de mobilidade e inclusão

0
269


Vitória, Jocélia, Priscila e Damáris.

Setembro é o mês oficial da luta pela inclusão da pessoa com deficiência. A campanha “Setembro Verde” tem como objetivo gerar visibilidade à causa da pessoa com deficiência. Setembro foi escolhido para essa ação em razão do dia 21 ser o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores de São Sepé conversou com quatro integrantes da Associação de Deficientes Físicos de São Sepé (ASDEF) sobre suas rotinas e obstáculos vivendo em São Sepé.

Vitória Forgerine, de 17 anos, é estudante e deficiente visual. No segundo ano do Ensino Médio, ela estuda no Colégio Estadual São Sepé (CESS). Ela e a mãe, Marta Paula Pires, contam que Vitória tenta viver da forma mais independente possível. Programas no celular e aplicativo, a linguagem em braile e a bengala são aliados, mas a cidade ainda não está preparada para acolher e dar a segurança necessária para que Vitória possa cumprir sua rotina sem a ajuda da mãe ou de um amigo.

Uma das reivindicações que elas vêm fazendo é para a contratação de um monitor para auxiliá-la nas atividades da escola. A jovem, que canta desde os 4 anos de idade, e quer cursar a faculdade de música, tem dificuldades de anotar o conteúdo das aulas. Ela conta que às vezes os alunos vão embora e ela fica sozinha na sala. “Se não fosse a bengala, eu não saberia como fazer”, relata. Situações como esta podem ter causado recentes episódios de síndrome do pânico na estudante. Hoje em dia, barulhos de sirene, cheiros ou qualquer sinal detectado pelos sentidos a deixam apreensiva.

Marta conta ainda que a inclusão de Vitória nos grupos da escola ainda é um desafio. Mesmo a tentativa de conseguir um caderno emprestado às vezes é um desafio. A jovem acredita que seu isolamento se deve ao desconhecimento: “acho que as pessoas têm medo porque não sabem como me conduzir. Falta conscientização e educação sobre esse tema”, diz.

Vitória tem bastante habilidade com a bengala. Ela teve algumas noções sobre o uso na APAE de São Sepé e fez um treinamento na Associação de Cegos e Deficientes Visuais (ACDV). Mesmo assim, o simples ato de andar na cidade, com as calçadas esburacadas e a cultura de algumas lojas, que colocam objetos expostos na calçada, torna o uso do equipamento quase inútil. A mãe dela acrescenta: “para atravessar a rua é outro problema. Alguns motoristas não respeitam a faixa de segurança e os limites de velocidade. Já quase fomos atropelados por ciclistas e pessoas com skate nas calçadas também”. A ausência de piso tátil nas calçadas também é um problema para os deficientes visuais, contam.

Lugar especial

Para Vitória, a Igreja Nossa Senhora das Mercês é um dos lugares mais especiais na cidade. Ela diz que se sente bem e que a igreja simboliza um grupo que a acolheu muito bem, o PAEM (Pré-Adolescente em Movimento).

 

Priscila Mônego Moreira, de 33 anos, também é deficiente visual. Atualmente ela presta serviços de assessoria ao vereador Paulo Nunes (PSB), na Câmara de Vereadores. Priscila terminou o ensino médio em 2009, no Instituto de Educação Tiaraju. A experiência na bancada do vereador tem sido importante, segundo ela: “É meu primeiro emprego. Estou aprendendo a pedir ligações, entre outras ações. Acredito que seja um passo para conseguir um emprego em uma empresa futuramente”, comemora. Em casa, ajuda nas tarefas domésticas e consegue ter autonomia em várias atividades.

Na cidade, Priscila circula sempre com a assistência de alguém. As reclamações dela sobre mobilidade são as mesmas de Vitória: calçadas deterioradas, ausência de infraestrutura e a falta de sensibilidade das pessoas.

Lugar especial

Mesmo sem as condições ideais para circular, o centro da cidade é o lugar preferido de Priscila. Ela conta que gosta de passear pelas lojas e pela Praça das Mercês. Ela que adotou recentemente o uso da bengala está explorando a cidade com a nova ferramenta, ainda que precise de alguém para acompanhá-la. Ao contrário de Vitória, ela não teve treinamento para usar a bengala, o que tem tornado a experiência um desafio diário.

 

Damáris Pereira Costa, de 58 anos, é professora de biologia aposentada e cadeirante. Para ela, os problemas de mobilidade não são tão diferentes. Ela enfrenta calçadas esburacadas, com desníveis, e a impaciência dos motoristas. A falta de prédios com acessibilidade é outro obstáculo. Quando vai nos seus lugares favoritos, nas farmácias, padarias e lojas, mesmo com a cadeira eletrônica, depende da boa vontade das pessoas para ajudar a entrar.

Cátia Damaceno, de 26 anos, trabalha com Damáris há 4 anos e meio. Ela sempre leva Damáris aos lugares, mas não consegue movimentar a cadeira sozinha quando há degraus. Segundo ela, quando precisam sair, pedem um táxi de um motorista que elas já conhecem, descem na praça e depois esperam que as pessoas colaborem.

Lugar especial

Para a ex-professora de biologia, a casa dela é o lugar mais importante para ela. “É lá que assisto às minhas novelas, acesso a internet, tenho o carinho do meu marido e da Cátia, que é maravilhosa”, elogia.
Jocélia Neves, de 53 anos, é dona de casa e deficiente visual. Começou a perder a visão com 17 anos decorrente de lúpus. Mãe de Mariele, 33 anos, e Pablo, 30 anos, mora sozinha, no mesmo terreno da mãe. Sua companhia mais presente é o cachorro Tody. Em casa, executa várias tarefas sozinha: faz café, limpa a casa e cozinha (se ninguém tirar a atenção, conta). Ama música. Gosta do gênero sertanejo, mas aprecia todas as românticas. Nos momentos de lazer gosta de passear com os filhos, que a levam para jantar em Caçapava ou no shopping em Santa Maria. Em São Sepé, sente falta de recursos que possibilitem maior mobilidade de deficientes visuais, mas reconhece que muitos avanços foram feitos, inclusive com o trabalho da ASDEF, iniciativa do vereador Paulo Nunes (PSB). “Se não fosse ele (Paulo Nunes), não teríamos muitas coisas que temos hoje na cidade”, elogia.

Lugar Especial

A dona de casa tem um carinho especial pelo Colégio Madre Júlia, que este ano completa 80 anos em São Sepé. Ela diz que gostaria de visitar novamente a escola onde estudou e nutre boas lembranças. “Às vezes eu sonho que enxergo o salão onde fazíamos teatro, a quadra onde jogávamos vôlei, me vejo colocada na fila para entrar conversando com os colegas”, conta.

 

 

Fonte: A.I. Câmara de Vereadores