O stress da geração perfeita – Pedro Corrêa

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Sou da geração que cumpre todos os prazos, tem o mais alto grau de escolaridade. Sou da geração que tem sede de conhecimento, sempre busca mais. Nasci em um tempo em que competitividade cresceu assustadoramente. “Preciso acabar com o fígado do meu concorrente”.

Temos uma série de doutores, doutorandos, mestres, mestrandos, graduandos, exemplares. Que fizeram sanduíches, intercâmbios, falam diversas línguas, são geniais em suas áreas. Pessoas perfeitas, bem-sucedidas, ou em busca do sucesso, mas que têm tudo para serem tudo, e são!

Alhures, a depressão é, mais uma vez o mal do século. Os consultórios dos terapeutas, psiquiatras e neurologistas estão lotados de pessoas inseguras, insatisfeitas, medrosas, tristes, fracassadas e frustradas.

Com 17 anos escolhemos a nossa profissão. Aos 22 anos nos formamos, aos 24 somos mestres e aos 28 anos, ostentamos os títulos de doutores. Que orgulho!

Parte da adolescência foi surrupiada por uma rotina exaustiva de estudos (colégio, cursinho preparatório para o vestibular, curso de línguas, redação). O tempo para ir visitar a avó ficou escasso. As madrugadas ficaram pequenas. E o desejo era: há se o meu dia tivesse 30 horas!

Depois vem a graduação. Época de festas, descobrimentos. Se não fosse auto cobrança constante em sermos melhores. Noites de estudos com café. Artigos, trabalhos e provas. Nós costumamos com os remédios para aquela gastrite que teima em aparecer no final do semestre, xampu antiquedas para os cabelos que se desgrudam do couro cabeludo pedindo socorro. O café, nosso melhor amigo, se torna o vilão necessário para conseguirmos dar conta da rotina. Isso, quando o remédio para ansiedade não vem de brinde, com o pacote de patologias normais que fizemos conosco.

Terminamos o TCC, nos inserimos na pesquisa, ou nas especializações. O mercado é visceral. Ele é competitivo. Mais estudos, mais preparo, mais remédios, menos tempo! Os amigos da infância, adolescência e faculdade ficam apenas nos encontros casuais da vida e nas promessas de reencontros que nunca acontecem, pois o tempo impede.
Em algum lugar há alguém que está concordando com o meu texto. Assim como, devem haver vários que estão discordando, achando que é papo de gente preguiçosa.

Mas há uma linha tênue entre preocupação da rotina, cobranças e stress, insegurança e descontrole emocional causados por uma pressão invisível, mas com um peso absurdamente grande.

Pensamos no fim do semestre, da graduação, do mestrado, do doutorado. Mas não pensamos no tempo que devemos dar as coisas simples da vida. Eu sei, a cerveja vai continuar gelada, os bares estarão abertos depois do doutorado. Mas a vida é uma só, e confesso: viver não cabe no Lattes. É mais! O tempo dedicado ao lazer, amigos e família, é o combustível que falta, é válvula de escape e o melhor antídoto contra a queda de cabelos, gastrite nervosa, peles descascando e as demais patologias. Arrume tempo para ir à terapia, arranje tempo também para seus lazeres! O semestre acaba, o ano também, mas a vida é agora!

 

Pedro Corrêa

Jornalista e pós-graduando em Mídias Sociais e Digitais pelo Centro Universitário Franciscano