Mesmo sem enxergar, jovem sepeense toca violão e usa computador

0
296
Fotos: Bruno Garcia


Fotos: Bruno Garcia

Se para algumas pessoas simples tarefas do dia a dia podem ser difíceis, para Vitória Forgerine, de 18 anos, tudo é motivo de superação. Deficiente visual desde quando nasceu, a jovem toca violão, cavaquinho, estuda, usa o computador e leva uma vida normal em São Sepé.

Mas de tudo que Vitória aproveita na vida, uma coisa chama mais atenção: a música. A mãe dela, Marta Paula Pires, , diz que a filha ganhou um DVD Karaokê com apenas dois anos. “Ela tem muita facilidade para decorar as letras das músicas. Então a Vitória ganhou um Karaokê que veio com um DVD do Bruno & Marrone. Todos os dias ela escutava. Foi aí que ela começou a ter o gosto pela música”, conta a mãe.

A jovem conta que começou a cantar e tocar com apenas três anos de idade quando ganhou o primeiro violão artesanal. “Comecei a ouvir os CD’s do Nilton Nascimento, que é um grande cantor e amigo de anos. Como meu pai era presidente do Clube Caça e Pesca, tive a oportunidade de subir ao palco pela primeira vez”, lembra a jovem.

Apaixonada pela música, Vitória aprendeu a tocar violão com músicos da cidade e através da internet. “Quem é cego tem o ‘ouvido absoluto’. A base da música é tu ouvir, memorizar e reproduzir”, explica. A jovem conta que tem tido muito apoio do amigo e cantor Dani Moreno e agora está aprendendo a tocar cavaquinho. Ela também participou de algumas edições do Sinuelo da Canção Nativa. Vitória salienta que tem muito a aprender com a música e não vai desistir do sonho em se tornar uma cantora profissional.

Em 2018, Vitória ingressa no terceiro ano do ensino médio no Colégio Estadual São Sepé (CESS). Ela conta que tem uma rotina normal como qualquer outro adolescente. “Eu uso computador, fiz o Enem no ano passado e participei como ajudante da equipe ‘Tu Tem Medo?’ na Ginco Cess”, conta. A jovem diz que durante as aulas no colégio digita no notebook tudo o que os professores escrevem no quadro. “Eu uso teclado normal, apenas decorei as posições das teclas”, comenta.

Com relação à acessibilidade, Vitória diz que enfrenta muitos obstáculos do dia a dia em São Sepé. Ela reclama de calçadas esburacadas, de lojas que colocam produtos na calçada e de motoristas que não respeitam os deficientes visuais. “Às vezes eu tenho que caminhar pela rua porque a calçada está cheia de produtos. Por várias vezes quase fui atropelada. Os motoristas não têm paciência. Esse espírito de se colocar no lugar do outro, hoje em dia as pessoas não têm”, desabafa.

Vitória diz que pretende fazer o Enem “pra valer” neste ano e quer fazer faculdade de Música, mas também pensa em cursar Jornalismo ou Fonoaudiologia. Ela, que está tomando remédio para se recuperar da síndrome do pânico, conta que quer continuar proporcionando alegria às pessoas através da música e, mesmo não enxergando, consegue perceber tudo de melhor que a vida pode proporcionar.