Marcus de Siqueira

Religião da salvação
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Desde as primeiras civilizações o homem procura uma forma de conhecer o desconhecido, de ir além daquilo que os olhos humanos são capazes de enxergar. Os cientistas através de estudos buscam uma explicação para a origem do mundo e da raça humana, os religiosos da mesma forma.  Todos em uma busca incessante por respostas no mínimo compreensíveis a todos.

O fato é que nem a ciência, nem a religião ainda chegaram lá de forma satisfatória, pois deveriam andar lado a lado e não em uma disputa ferrenha para provar que uma está certa e a outra errada.

Acredito que houve um tempo em que ciência e religião eram “UNO”, mas pelas vaidades humanas em algum momento separaram-se.

Segundo a etimologia, uma das teses mais aceitas é que a palavra religião vem de religare, ou seja, religar o homem ao criador. Mas de fato qual religião realmente faz esta ponte? Esta é uma das buscas daqueles que tem fé em um criador.

Sempre fui curioso com o desconhecido. Desde muito pequeno fazia perguntas para minha mãe do tipo que ela se enrolava toda para responder. Em certo momento de minha vida busquei uma espiritualidade. Fiz retiros espirituais, tocava violão nas missas, enfim, queria conhecer mais e mais. Um pouco adiante resolvi buscar a religião de Umbanda, pois uma cartomante disse-me que eu tinha uma missão espiritual (pelas suas palavras conhecia-me mais que eu mesmo). Desde lá encontrei o que precisava. A resposta para minhas dúvidas.

Mas será que apenas eu estou certo? Apenas minha religião supre as dúvidas sobre quem somos e para onde vamos?

Muitas religiões prometem a salvação, dizendo que fora delas outra não existe. Me para a refletir. O criador fez um mundo onde existem milhares de galáxias, planetas ainda desconhecidos, raças humanas diferentes, culturas e linguagens divergentes, para apenas um pequeno grupo estar certo e encontrar a salvação?

Paro para pensar em um pai com muitos filhos e filhas, uma grande família, todos gerados do mesmo matrimonio. Este permitiria que todos fizessem suas escolhas, cada um a sua maneira. Ele os odiaria posteriormente após estas escolhas diferentes? Salvaria uns e condenaria outros? Iria impor após dar o livre arbítrio a eles uma única verdade, pois se não aceitassem estariam condenados? Não consigo imaginar uma situação destas. Um pai não dá pedra a um filho que pede pão. Sempre dá uma segunda, terceira, quantas chances forem necessárias para os seus. Claro que sempre mostrando regras e caminhos.

Sou Cristão! Sim, Cristão. O Umbandista crê em Jesus, não como único salvador, mas como um exemplo de vida, uma conduta a ser seguida.

As religiões foram criadas pelos homens. Nós necessitamos delas para ter um amparo, uma fé. Nem mesmo o próprio Cristo impôs uma religião. Conheço pessoas sem fé nenhuma, que ao meu ver são pessoas boas e caridosas. E se realmente existisse a salvação e a condenação, acredito que estariam salvos mesmo ser ter fé, pois semearam boas sementes. Já por outro lado, conheço pessoas muito religiosas que usam desta para explorar, escravizar, subjugar pessoas humildes. Será que se salvariam apenas por crer em algum segmento religioso? Fariam tudo errado a vida toda, mas no leito da morte apenas se arrependeriam, aceitariam uma proposta religiosa e pronto, o paraíso os espera?

Somos humanos errantes, mas devemos tentar progredir, evoluir. As religiões nos ajudam a isto, mas não é o único caminho. A Umbanda me ajuda a ser uma pessoa melhor, me ajuda a ajudar o próximo sem nada cobrar em troca, como Cristo pregava. Mas não condeno outras formas de crença. Discordo de várias pregações, mas entendo que existem aqueles que necessitam daquela forma de crença, ouvir e conduzir suas vidas daquela maneira. Assim como eu escolhi as minhas verdades, outros tem o mesmo direito. O que não podemos é levar a ferro e fogo, condenando os que divergem de nossas opiniões.

A verdadeira religião da salvação é o bem, o amor e a humildade.

Sejamos pessoas boas e unidas independente de crença, sexo ou raça. Acredito que estaremos assim todos salvos.

 

Um fraterno abraço a todos.

Marcus de Siqueira

Sacerdote Umbandista