José Brum

Preto Velho, semeador da Paz‏
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Pretos velhos são entidades de umbanda, espíritos que se apresentam em corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos que morreram no tronco ou de velhice, e que adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. São divindades purificadas de antigos escravos africanos. Sábios, ternos e pacientes, dão o amor, a fé e a esperança aos “seus filhos”.

O preto velho, na umbanda, está associado aos ancestrais africanos, assim como o caboclo está associado aos índios e o baiano aos imigrantes nordestinos.

São entidades que tiveram, pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria, apesar da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da vida, consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria geralmente ligados à Doutrina Umbandista do Tríplice Caminho (AUMBANDHAM – alegria e pureza + fortaleza e atividade + sabedoria e humildade), trazendo esperança e quietude aos anseios da consulência que os procuram para amenizar suas dores, ligados a vibração de Omolu, são mandingueiros poderosos, com seu olhar prescrutador sentado em seu banquinho, fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda, rezando com seu terço e aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral e suas baforadas são para limpeza e harmonização das vibrações de seus médiuns e de consulentes. Muitas vezes se utilizam de outros benzimentos, como os utilizados pelo Pai José de Angola, que se utiliza de um preparado de “guiné” (pedaços de caule em infusão com cachaça) que coloca nas mãos dos consulentes e solicita que os mesmos passem na testa e nuca, enquanto fazem os seus pedidos mentalmente; utiliza-se também de vinho moscatel, com o que constantemente brinda com seus “filhos” em nome da vitória que está por vir.

São os mestres da sabedoria e da humildade. Através de suas várias experiências, em inúmeras vidas, entenderam que somente o amor constrói e une a todos, que a matéria nos permite existir e vivenciar fatos e sensações, mas que a mesma não existe por si só, nós é que a criamos para estas experiências, e que a realidade é o espírito. Com humildade, apesar de imensa sabedoria, nos auxiliam nesta busca, com conselhos e vibrações de amor incondicional. Também são mestres dos elementos da natureza, a qual utilizam em seus benzimentos,são espíritos da humildade, sabedoria e paciência.

Os Pretos Velhos são entidades cultuadas pelas religiões afro-brasileiras, em especial a umbanda. Nos trabalhos espirituais desta religião, os médiuns incorporam entidades que possuem níveis de evolução e arquétipos próprios. O preto velho é fruto de circunstancias únicas que existiram no Brasil sendo a mais carismática entidade dos terreiros de umbanda.

Os escravos eram trazidos da África oara o Brasil, e após a sua cravohegada pouco tempo sobreviviam. As árduas condições de vida, má alimentação, muito trabalho, falta de salubridade, resultavam numa média de vida de sete anos. Alguns conseguem sobreviver e alcançar idade avançada, e assim surge a figura deste escravo (Preto Velho), que personifica o Patriarca da raça, com cabelos brancos, experiência de vida e uma enorme sapiência. O Preto velho é então o sábio que deve ser consultado e ser ouvido, é aquele a quem se recorre quando se procura um conselho e uma orientação. É uma entidade marcada pela tolerância, pela caridade e pelo amor ao seu semelhante.

Homenageamos os pretos velhos durante anos em nosso centro, sempre convidando uma personalidade de etnia negra, que tenha em sua trajetória de vida esses valores deixados por esses ancestrais e que preservaram suas raizes, sua crença, sua humildade e sua coragem ultrapassando as barreiras da intolerância e do preconceito e fizeram e fazem parte integrante do desenvolvimento econômico e social da nossa comunidade.

Durante esses anos ,nos deparamos com verdadeiras lições e vida, de superação, de sabedoria, e ao mesmo tempo de abandono. Algumas histórias apenas na memória, na saudade mas com tamanha importância pois muitas fazem parte da própria história da cidade. Nossos sinceros agradecimentos a esses importantes personagens.

“Para quem é espírito, ser preto ou branco, velho ou jovem, é tudo uma questão secundária”.

 

Meu Fraterno Abraço.

José Brum