Ivan Cezar Ineu Chaves

Tapapó Branco
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Já escrevi diversos artigos e crônicas contando dos tempos em que minha família residiu no Uruguai, fruto do asilo político imposto a meu pai pelo regime militar brasileiro após o golpe de 1964. Hoje quero, contudo, me posicionar apenas no tema do uniforme escolar que todos nós trajávamos na escola uruguaia e que, pelo que sei, continuam trajando até os dias atuais – uma simples túnica branca, aqui no Brasil chamado de “Tapapó”, que era decorado uma “moña” (tope) azul.

Trata-se de um dos menores países da América do Sul, porém um dos que detém maiores índices em educação e cultura no mundo, e creio que temos muito a aprender com os uruguaios. Lá, sob inspiração do pensador José Pedro Varela, o ensino é público, gratuito e obrigatório, tratado pelo estado como uma prioridade. Mas não é só isso – o ensino público é laico e toda a filosofia é voltada para consolidação dos valores sociais e interesses coletivos.

A túnica branca era geralmente exigida até a altura dos joelhos e se prestava a cobrir por inteiro a roupa de todos os alunos, nivelando ricos e pobres, de tal maneira que no ambiente escolar se consagrava uma isonomia plena. Todos éramos iguais e nosso único objetivo era o de estudar e receber do estado uma formação digna.

Assistindo ao episódio da aluna de uma universidade paulista, fiquei perplexo com o julgamento, (a meu juízo equivocado da sociedade) que, em sua expressiva maioria posicionou-se contra a direção do educandário e favorável à bonita, mas extravagante moça . Até Ministérios e entidades tradicionais do País como a OAB se posicionaram em defesa da jovem.

Numa nação tolerante, onde as mulheres não sofrem com privações e preconceitos como em outros pontos do planeta e onde pode-se freqüentar a balada, bares ou mesmo outros ambientes festivos trajando qualquer roupa, o mínimo que se espera é que, pelo menos em ambientes acadêmicos e em locais de trabalho seja respeitado um limite de sobriedade e de rigidez nas posturas.

O espaço físico e o ambiente escolar, tanto quanto o local onde se desenvolvem atividades profissionais ou empresariais prescinde de respeito a determinadas fronteiras de preferências íntimas e, por certo, nesse episódio a sociedade deveria ser convidada a refletir mais profundamente sobre a extensão do conceito de responsabilidade individual diante do interesse coletivo restrito.

Sem dúvida alguma, que a velha túnica – tapapó branco – nivelaria todos os estudantes evitando que os corredores escolares fossem transformados em passarela para desfile de “modelitos” e/ou competição de moda – esta  concebida como ícone de posicionamento na casta sócio-econômica – consagrando diferenças que são incompatíveis com o objetivo de um local onde apenas dever-se-ia buscar o crescimento intelectual, pessoal e ético e, ao depois – e como conseqüência – o progresso material.

Mas, ao que parece, a juventude brasileira começa a buscar a notoriedade a qualquer custo, e ascensão social pelo viés da banalização de princípios éticos, sobretudo, porque é muito mais fácil e rápido ganhar dinheiro se despindo à lente das câmaras ou expondo a intimidade, do que se graduando na academia. Se há uma mídia disposta a premiar a futilidade e a exposição íntima – e paga bem – que se dane a academia!