Caso Bernardo: encerrados depoimentos de testemunhas de acusação

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Foto: Leticia Mendes/GauchaZH/Twitter

 

Foto: Leticia Mendes/GauchaZH/Twitter

O Ministério Público concluiu por volta das 17h desta terça-feira, 12, a oitiva das cinco testemunhas arroladas pela acusação do Caso Bernardo. Pela manhã, falou a empresária Juçara Petry. À tarde, foi a vez da Psicóloga Ariane Schmitt e da ex-secretária de Leandro Boldrini, Andressa Wagner. Na segunda-feira, 11, foi a vez das Delegadas Caroline Machado e Cristiane Moura.

Nesta quarta-feira, 13, as testemunhas de Leandro Boldrini serão ouvidas. O julgamento deve durar cinco dias.

 

Vídeos

Os Promotores de Justiça exibiram vídeos que Leandro Boldrini gravou do próprio celular onde Bernardo está agitado e mostra uma faca para o pai. O menino grita, chora e pede que o pai pare de filmá-lo. As imagens foram mostradas durante o depoimento da Psicóloga Ariane Schmitt. “Esse não é o Bernardo que todos conhecemos. Jamais se quer perpetuar um comportamento agressivo”, afirmou a testemunha. “Menino dócil, sensível, pedia abraços”, definiu. “Bernardo não morreu no dia 4 de abril. Bernardo teve uma morte lenta, gradual e contínua.”

 

Medicação

Por questão de ética profissional, a Psicóloga não revelou o teor de suas conversas com Bernardo. Ela disse que tratou Bernardo por um tempo, mas a família optou por interromper o tratamento. Quando retornou, o menino disse contou que estava tomando medicação. “Ritalina, Risperidona e Rivotril”.

Ariane disse que conversou muito com pessoas que conheciam o menino. “Bernardo foi muito pouco feliz”. Ela contou que o quarto do menino era azul marinho e sem vida, ao passo que o resto da casa era decorada. “Se deve dar asas para voar mas com raízes. Criatura e criador precisam estar ligados afetivamente. Do contrário, criará na criança uma rebeldia”, disse a Psicóloga.

À defesa de Graciele, ela relatou que Bernardo costumava tomar os remédios sozinho, inclusive, levava para a escola.

 

Relacionamento com o pai

Pai tangencial, sem empatia, sem vínculo algum com o filho. Assim a Psicóloga definiu a relação de Leandro Boldrini com o filho. “Como profissional, Leandro é excelente, nota 10. Mas como pai, deixou a desejar. A autoridade era exercida com violência, com um certo sadismo, como vimos nos vídeos.”

Ela citou uma ocasião em que Bernardo estava com bronquite e foi sozinho ao consultório do médico, que exigiu a presença do pai. O médico procurou Boldrini, mas sequer foi recebido.

 

Menino dócil

Para Ariane, Bernardo sofria de falta de afeto e de vínculo familiar.

À defesa de Leandro, ela disse que não conseguiu dar um fechamento clínico para o caso de Bernardo, o atendeu “meia dúzia” de vezes. A madrasta esteve junto “no máximo duas vezes”.

A defesa de Graciele perguntou à testemunha se Bernardo odiava alguém. “Sim, a madrasta. Havia animosidade.”

 

Ordem para expulsar

Andressa Wagner, ex-secretária da clínica de Leandro Boldrini foi a última testemunha arrolada pelo Ministério Público. Os dois trabalharam juntos por cinco anos. O depoimento dela girou em torno da autenticidade da assinatura do médico.

Ela não permitiu registro de imagens dela e chorou em plenário quando questionada sobre o motivo da restrição.

Andressa contou que a madrasta deu ordem para que a funcionária expulsasse Bernardo do consultório, caso ele aparecesse por lá. Houve uma vez em que ela estava muito irritada e comentou que teria que “dar fim” no menino e que “dinheiro era tinha para dar fim no guri”. Ela não sabe se Leandro Boldrini tinha conhecimento dessa ordem.

A ex-funcionária disse ainda que nem sempre o relacionamento dos dois foi assim. Que, no início, Graciele e Bernardo se davam bem e passeavam juntos. Bernardo contou para Andressa que ia ganhar um aquário. “Ele falou para o pai que ia comprar o aquário, tiraram uma foto juntos e o Doutor mostrou a clínica para ele¿. Andressa contou ao MP que chegou a ajudar Bernardo em trabalhos de aula e que também o acompanhou em consulta médica e ao dentista. “Não tinha ninguém para levar.”

Edelvânia esteve na clínica, ocasião em que contou para a testemunha que seria madrinha de Maria Valentina, a filha de Graciele e Leandro. As duas conversaram por cerca de meia hora. O médico estava no hospital operando um paciente. Antes disso, ela nunca tinha falado com a acusada.

 

Assinatura

De acordo com Andressa, o médico era um excelente profissional. O Promotor de Justiça perguntou a ela sobre a assinatura do ex-chefe dela. Ele mostrou cópias de receitas com assinaturas que seriam de Boldrini. A testemunha, em princípio, disse que a assinatura do médico não variava. Entretanto, ela não reconheceu todas as formas apresentadas nos documentos apontados pelo MP e ficou confusa em relação a elas.

 

Medicina

A vida de Leandro Boldrini era voltada para o trabalho, sendo a profissão “sua paixão”. A ex-funcionária disse que foi fiel ao médico e que nutre por ele um misto de sentimentos, oscilando entre raiva e gratidão. Nunca viu Leandro nervoso ou brigando com Bernardo.

 

Morte de Odilaine

Um laudo de um perito particular, contratado pela mãe de Odilaine, já depois da morte do neto, apontou que Andressa teria escrito uma carta se passando pela mãe de Bernardo, supostamente deixada por ela antes de se suicidar. O fato causou revolta popular e fez com que Andressa fosse embora de Três Passos. “Acabaram com a minha vida”, disse ela, chorando. O processo que investigou as circunstâncias da morte de Odilaine chegou a ser retomado, mas foi rearquivado.

A testemunha disse que se sentiu pressionada durante a investigação policial. “A delegada Caroline chegou dizendo para eu falar onde estava Bernardo.”

 

Chaves

De acordo com a testemunha, sempre que Bernardo foi à clínica estava com as chaves de casa e um controle preto na mão. Estava sempre bem vestido. Sempre foi magro, mas ela considera que o menino sempre foi assim.

 

 

Fonte: TJ RS