Caso Bernardo: encerrada fase testemunhal no júri

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Um perito, uma professora e um ex-prestador de serviços do réu Leandro Boldrini foram ouvidos na manhã desta quarta-feira, 13, concluindo o rol indicado pela defesa do médico para serem ouvidas no Tribunal do Júri no Caso Bernardo. Ele é acusado de participar do homicídio do filho dele, Bernardo Boldrini. Também respondem pelo crime Graciele Ugulini (madrasta da criança), Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz.

A manhã foi movimentada. A Juíza Sucilene Engler, que preside o Júri, precisou fazer duas pausas. Na primeira, uma discussão entre a primeira testemunha e o advogado de Edelvânia interrompeu o julgamento por cinco minutos, e, em seguida, uma testemunha se sentiu mal.

Como a defesa de Leandro abriu mão de três testemunhas, está encerrada esta fase.

À tarde, iniciaram os interrogatórios. O primeiro a falar foi Leandro. Nesta quinta-feira, 14, devem falar Graciele, Edelvânia e Evandro.

 

Perícia grafotécnica

O perito aposentado do Instituto-Geral de Perícias do Paraná, Luiz Gabriel Costa Passos, foi contratado pela defesa de Leandro Boldrini para confrontar uma perícia técnica realizada pelo IGP/RS, que analisou a assinatura do médico, cujo resultado foi “inconclusivo”. A assinatura estava no receituário de Midazolan (medicamento de uso controlado), comprado por Graciele e Edelvania, e ministrado em Bernardo, provocando a sua morte.

A análise da perícia do IGP gaúcho apontou que a assinatura é muito simples, não sendo possível precisar os hábitos gráficos de Boldrini. No parecer técnico do perito particular, ele identificou mais padrões da grafia do médico do que o IGP/RS.

“Encontrei sete divergências gráficas significativas da rubrica questionada em relação aos hábitos de grafia de Leandro, desde os movimentos até a velocidade. Também, no centro da rubrica questionada, há uma interrupção na escrita. As paradas e retomadas da caneta revelam indícios fortíssimos de falsificação”, afirmou. ¿Foi uma imitação¿, resumiu.

Dentre as discordâncias apontadas, Passos destacou que o ponto de ataque (início do traçado da letra) do movimento dos padrões de Leandro está projetado para o lado de fora, já na letra encontrada na receita analisada o ponto é na parte interna. Ainda, no documento questionado, o formato da primeira letra é arqueado, mas a de Leandro é uma parábola. “Isso é uma contradição nos padrões de escrita de Leandro.”

Utilizando um microscópio, Passos identificou outra anomalia; uma descontinuidade de um traço e a retomada da escrita. “Isso é uma parada anormal da caneta que não existe em nenhum dos 160 padrões de escrita de Leandro.”

Depois da análise do paranaense, a defesa de Leandro enviou questionamentos ao IGP/RS. “As divergências apontadas, do dinamismo da escrita e, sobretudo, dos movimentos grafotécnicos, ocorrem em razoável quantidade, de tal modo que induzem o perito a concluir que a assinatura não procedeu do punho escritor que lançou os padrões gráficos, ou seja, de Leandro Boldrini”, aponta o parecer do perito aposentado.

 

Sufocamento

Luiz Omar Gomes Pinto é socorrista e trabalha em uma universidade. Conheceu Leandro Boldrini da época em que ele era casado com Odilaine Uglione, mãe de Bernardo. A testemunha já prestou serviços no sítio de Boldrini (que foi vendido posteriormente) e se sente grato pelo médico ter atendido gratuitamente o filho dele após sofrer traumatismo craniano. A esposa dele, Elaine, era funcionária de Odilaine e cuidou de Bernardo.

O menino costumava brincar com o filho da testemunha com frequencia. Luiz disse acreditar que Boldrini era ausente porque “precisava salvar vidas”. Ele contou que, depois que o médico começou a se relacionar com Graciele, ela teria dado ordem para que Bernardo não tivesse mais contato com a família da testemunha pela ligação deles com Odilaine.

“Um cara mais simples do que eu. Andava de chinelo de dedo”, descreveu ele, se referindo a Boldrini. Que também afirmou ter visto momentos de afeto entre pai e filho.

Luiz Omar relatou ao Promotor de Justiça que a esposa soube de maus tratos que Bernardo estava sofrendo por parte da madrasta. “Parece que ele teria sido sufocado”, afirmou. Detalhou que a esposa encontrou Bernardo na rua e o menino estava chorando e contou a ela que Graciele teria tentado sufocá-lo com um travesseiro ou uma almofada (não tinha certeza).

Afirmou que optaram por não denunciar porque “a corda arrebenta do lado mais fraco”. Ficou com medo de ser processado por Graciele e também não quis incomodar Leandro Boldrini. Optou por orientar a esposa que contasse à Jussara Uglione, avó materna do menino.

 

Família linha dura

A Professora Maria Lúcia Cremonese é amiga de Leandro Boldrini. Conhece ele e a família dele desde criança em Campo Novo. “Filho de uma família linha dura, extremamente resistente. Hoje chamaríamos o pai dele de ogro”, afirmou. Foi professora dele. “Nas aulas de Literatura, eu levava os alunos para a biblioteca. Os alunos retiravam os livros e contavam as histórias em sala de aula. Eu tinha muita dificuldade com Leandro. Ele era muito inteligente. Lia dois ou três livros, mais que os colegas”, relembrou a professora. ¿Leandro começava e terminava no mesmo tom, se reportava só para mim, dando o seu melhor. Isso tirava a atenção da classe ¿.

Declarou que o irmão de Leandro pediu que ela fosse testemunha para contar sobre a origem dele. “Queriam que eu corroborasse com essa coisa dele ser desatento.” Também não presenciou nenhum problema disciplinar entre Leandro e colegas.

Disse que não conhece Graciele, pois a convivência com Leandro foi até os 30 anos de idade dele.

 

 

Fonte: TJRS