Alunos resgatam a história do sepeense Cilon Cunha Brum

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Foto: reprodução/Livro Antes do Passado – O silêncio que vem do Araguaia

“Esta sepultura aguarda o corpo de Cilon Cunha Brum. Homenagem dos irmãos, cunhados e sobrinhos. Morreram? Quem disse se vivos estão! Não morre a semente lançada na terra, os frutos virão”. As palavras que você acabou de ler estão escritas na lápide localizada no Cemitério Municipal de São Sepé e que traz junto o poema de Lila Ripoll. A descrição pode remeter a várias perguntas que ainda estão sem respostas.

Com o objetivo de saber mais sobre a história do sepeense que lutou contra a ditadura e resgatar a memória do sepeense Cilon Cunha Brum, alunos do 9º ano da Escola Padre Théo, capitaneados pelo professor Felipe Pereira, desenvolveram uma pesquisa sobre o passado de um dos momentos mais marcantes da história brasileira.

Segundo o professor Felipe, a ideia surgiu a partir do programa A União Faz a Vida, do Sicredi, que é desenvolvido na escola e tem diversas atividades sobre temas diferentes. “A nossa turma do 9º ano, na qual eu sou responsável, pensou em uma ação que seria pesquisar e relembrar a vida do Cilon Cunha Brum”, destaca.

Para o professor, muitas pessoas que contribuíram de forma significativa para a história tiveram seus nomes esquecidos, a exemplo de Cilon. “Poucas pessoas de São Sepé conhecem o nome de Cilon. O tema é pouco trabalhado nas escolas, e é necessário lembrar a memória dele”, salienta.

A primeira ação desenvolvida pelos alunos foi realizar uma pesquisa em jornais da época no biblioteca municipal. Segundo o professor, Cilon foi um jovem que saiu de São Sepé em busca de um futuro fora da cidade. “Então o Cilon vai para Porto Alegre e lá ele passa a trabalhar como publicitário e a empresa envia ele para São Paulo. Na capital paulista o sepeense começa a conviver com o contexto da ditadura. Ele começa a ver todos aqueles que questionavam, criticavam a ditadura e queriam ter opinião. O Cilon começa a ver esse pessoal apanhando na rua, serem torturados, seus companheiros sendo presos e assassinados e, indignado com a situação, Cilon se junta a um grupo que passa a questionar aquele sistema ditatorial”, explica.

Na época da ditadura, quem criticava era preso, ou seja, não havia espaço para um diálogo. Diante desse cenário, Cilon observa que palavras não adiantam para conter as atrocidades dos ditadores e parte para a ação. “Ele vai para o Araguaia junto com os companheiros dele para lutar contra as forças resistentes e, de fato, ocorre um confronto na fronteira do Pará com Tocantins e Maranhão”, conta o professor.

Durante a pesquisa, os alunos também obtiveram informações de que, a partir da luta no Araguaia, Cilon deixa de ter contato com a família. “Lá ele desaparece e o movimento é vencido, tendo em vista que o exército tinha mais poder com armas e pessoas do que o grupo que lutava contra a ditadura, que muitas vezes era em pequenos grupos”, explica.

A pesquisa também cita o livro produzido pela sobrinha de Cilon, Liniane Haag Brum, que traz como principal hipótese a de que Cilon teria sido preso e que, dentro de uma possibilidade, ele teria sido executado na prisão. A suspeita é de que os militares teriam desaparecido o corpo de Cilon para que não houvessem provas e para que os próprios combatentes não fossem responsabilizados. “Mais tarde a família começa a buscar informações sobre o paradeiro de Cilon. Recentemente o Major Curió, que foi um dos militares que comandou a luta contra o movimento teria falado que eles teriam executado o Cilon”, comenta.

Para os alunos, nem mesmo num contexto de ditadura Cilon Cunha Brum deveria ter sido executado. “Mesmo que ele tivesse errado nas ações dele, não se justifica o assassinato dele”, complementa o professor.

Para que histórias como essa não se repitam mais, o projeto desenvolvido na escola Padre Théo resgata a memória de Cilon Cunha Brum e faz com que as novas gerações reflitam sobre o que acontecia no passado. Além de relatos documentais, os alunos puderam expressar nas paredes da escola, através do grafite, a reprodução de algumas fotos que mostram um pouco da trajetória de Cilon.

A atividade aconteceu na sexta-feira, 18, e contou com a participação de grafiteiros de Cachoeira do Sul e Erechim. O professor ressalta que nos próximos meses o grupo de alunos pretende dar continuidade à pesquisa relacionada os tempos de ditaduras vivenciados pelo sepeense Cilon Cunha Brum.