A felicidade da profe – Gabriela Martins Machado

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Assunto recorrente no meu círculo social é a soberba. Volta e meia, de forma presencial ou online, a gente debate sobre alguma situação envolvendo tal sentimento. Mais de uma vez, chegamos à conclusão que os comportamentos arrogantes e presunçosos têm a ver com a falta de educação formal ou poucas oportunidades de socialização com grupos de culturas e opiniões distintas. Em suma, equiparar superioridade com grosseria é provinciano.

O “você sabe com quem está falando?” nunca foi tão cafona. Se há algumas décadas acumular anos de estudo era suficiente para justificar o nariz empinado, hoje o movimento contrário é que deve ser enaltecido: aprender para relativizar, tornar igual, compreender. Frequentar a universidade deve ser algo transformador a ponto de nos fazer enxergar categorias invisibilizadas, para então, respeitá-las.

Um caminho que parece tão utópico e possível só na teoria, às vezes se mostra viável, basta que façamos o esforço de descontruir o banal, como por exemplo, um e-mail. Foi através desta ferramenta que recebi o resultado de uma avaliação da faculdade. Além do anexo com as notas, a professora escreveu sobre a satisfação que sentia em ver a turma se saindo bem. “Parabéns, a prof ficou muito feliz”, transmitiu, assinando a mensagem apenas como prof – assim mesmo, em letra minúscula.

Estou falando sobre uma doutora pela USP e pós-doutora pelo Museu Nacional (sim, aquele que pegou fogo e que detém um dos mais bem sucedidos programas de pós-graduação em Antropologia Social do país), mas também sobre uma intelectual que deixou toda essa bagagem num cantinho para reconhecer os esforços de quem está começando. Tão nobre ao elogiar os estudantes, tão minimalista ao nos permitir chamá-la de prof, assim como fazíamos no ensino fundamental.

A mensagem em questão me provocou a refletir, mais uma vez, sobre o dilema que carrego há muitos anos. Ser antropóloga é sonho distante ou projeto pessoal? Concluí que se rolar, ainda não é a minha hora. Afinal, ser nomeada como professora doutora me agrada. Só que os muito bons preferem prof – desse jeito, despidos de qualquer vaidade.

 

 

Gabriela Martins Machado

Jornalista
Mestre em Ciências Sociais
Acadêmica de Ciências Sociais